Nós e Nossas Orações III

Maria Madalena orando,
Ary Scheffer (1795-1858) 
É um fato que não existem orações sem resposta. Tem-se dito acertadamente que Deus tem três respostas a nossas orações. Em certas ocasiões, diz sim; em outras, não. Em outras, ainda, Deus nos diz: “Aguarda!”. Sem dúvida, dentro de nossa limitada experiência de vida , é fácil observar que, se Deus concedesse todas as nossas petições, isto não resultaria em nosso próprio bem. Assim, Deus frequentemente tem que responder a nossas preces negando-nos o que pedimos. Ao cabo de um dia, veremos que não existe oração que fique sem resposta pois Deus, em sua sabedoria, nos responde, não como quereria a nossa ignorância mas, sim, como seu amor e seu conhecimento
consideram o melhor. Fica ainda outra inevitável lei da oração. Deus não fará por nós aquilo que somos capazes de conseguir por nossos próprios meios. A oração não é uma saída fácil para nos livrar das tribulações. Não é um meio para evitar as nossas responsabilidades e recusar a tarefa que nos tem sido entregue. Podemos expressar isto de outra maneira. Ao orarmos devemos imediatamente pôr mãos à obra para conseguir que nossas preces se convertam em realidade ; a oração é a cooperação do nosso esforço com a graça de Deus. É quando fazemos o nosso maior esforço que Deus nos dá sua maior resposta. Assim, se fizermos esse esforço, Deus nos dará sem falta sua resposta.

Suponhamos que um estudante tenha estudado pouco ou nada para uma prova, que tenha desperdiçado o seu tempo ou que tenha se dedicado a coisas que, em si, são boas mas que não eram as coisas que deveria fazer; suponhamos que, ao chegar o dia do exame, entra na sala, toma a folha da prova e descobre que não está em condições de responder às perguntas formuladas. Suponhamos que, nesse momento, ele incline a cabeça e ore com devoção: “Ó Deus, ajuda-me a ser aprovado neste exame“. Essa não seria uma verdadeira oração. Respondê-la implicaria em premiar a ociosidade e avalizar o tempo perdido em coisas sem importância. Suponhamos, porém, que esse estudante estudou arduamente e que tem um temperamento nervoso e inseguro; suponhamos que conheça o assunto mas, traído por seus nervos, faz um mal exame. Suponhamos, então, que ele incline a cabeça e ore assim: “Ó Deus, tu sabes quão duro eu tenho estudado, e sabes também com que facilidade me ponho nervoso; tranquiliza-me e mantém-me sereno; e ajuda-me para que eu possa fazer justiça a mim mesmo e à tarefa que tenho realizado”. Esta é uma prece que, se é pronunciada em humilde confiança, pode e sem dúvida será atendida. Na oração, a graça capacitadora de Deus vem sempre ao encontro do ardente esforço humano.

De pouco vale orar pedindo a capacidade para vencer uma tentação, para, logo depois, aproximar-se dela, brincando com fogo e permanecendo na postura precisa para que a tentação possa exercer toda a sua fascinação. Tem pouco valor orar para que Deus converta os pagãos e, logo depois, negar-se a dar uma contribuição para fazer possível que o Evangelho chegue a eles. Vale pouco orar para que os aflitos sejam consolados e os que estão solitários recuperem sua alegria se nós mesmos não nos empenhamos em levar consolo aos tristes e desprezados que existem em nosso próprio meio. Carece de valor o orar por nosso lar e nossos seres queridos e continuar a ser tão egoístas e sem consideração com eles como antes. Se estamos doentes e vamos ao médico, este nos receitará algum remédio, uma dieta, o tratamento certo ou até um tipo de exercício. A não ser, porém, que nos proponhamos fazer o necessário esforço de vontade para cumprir as instruções do médico, continuaremos da mesma forma como se não o tivéssemos consultado. O conhecimento do médico e o nosso esforço obediente e autodisciplina devem andar juntos para que possamos ficar curados. Com a oração ocorre exatamente de maneira igual. Ela se converteria mais em mal do que em bênção se fosse tão só uma maneira de lograr que Deus faça o que nossa própria vontade não está disposta a fazer.Deus não faz as coisas por nós. Ele nos capacita para que as levemos a cabo por nossa própria conta. A palavra de Deus a Ezequiel foi: “Filho do homem, põe-te de pé, e falarei contigo” (Ez 2:1). Deus responde a prece daquele que se acha espiritual, mental e fisicamente disposto para a ação, porém não a daquele que vive a vida confinado em um sofá. Muitas de nossas orações teriam resposta se estivéssemos dispostos, com a ajuda de Deus, a fazer o esforço que as converta em realidade.

Há ainda uma outra lei da oração que sempre devemos recordar. A oração se coloca dentro das leis naturais que regem a vida. Se pensarmos bem, isto é uma necessidade. O notável deste mundo é que se trata de um mundo digno de confiança: se as leis que o governam fossem suspensas erraticamente, ele deixaria de ser uma ordem para transformar-se num caos. Suponhamos que, por acidente, um homem, devoto e bom, firme crente na oração, caísse de uma janela no 40º andar de um arranha-céu. Suponhamos também que, ao passar em sua queda pelo 20º andar, orasse: “Ó Deus, detém a minha queda”. Esta é uma prece que não pode ter resposta porque, nesse momento, o homem se acha sujeito à lei da gravidade. Suspendê-la significaria o fim, não de sua queda, mas de todo o mundo. Disto se deduz uma conclusão muito importante. A oração normalmente não promete nem concede a liberdade de alguma situação, ela outorga poder e confiança para enfrentar e vencer os obstáculos. No Jardim do Getsêmani Jesus orou pedindo para ser liberado da cruz, se fosse a vontade de Deus. Não se livrou dela mas recebeu poder para enfrentá-la.

Vejamos um exemplo muito simples do que falamos. Às vezes se ora para que faça bom tempo no dia da excursão das crianças. Uma prece assim é incorreta. Não é a oração mas as condições atmosféricas que determinam o tempo. Em nenhum caso o agricultor orará corretamente se pede a chuva sobre sua lavoura ressecada. A oração correta em tais condições é que possamos gozar o dia com alegria, haja granizo, chuva ou sol.

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