Fogo estranho

Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu; e morreram perante o SENHOR.
Sacerdote zoroastriano guardando o fogo em Iazd
Leia João 3.16-18 3.16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 3.17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. 3.18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
Ao sul do Irã, na cidade de Iazd, existe em um templo dedicado a Zoroastro que possui uma pira cujo fogo arde continuamente há mais de dois mil anos. Várias gerações de sacerdotes o tem vigiado alimentando-o com madeira de sândalo para que ele nunca se apague. Esse é um dado que pode nos dar tanto a noção do zelo dos povos semitas por seus objetos consagrados, quanto a dimensão exata da indignação contra os filhos de Arão por eles se apresentarem diante de Deus levando consigo o que o escritor bíblico chamou de fogo estranho.


O que chamou a minha atenção não foi propriamente a rigidez do ritual, mas a sutileza na identificação da origem do fogo, porque para nós fogo é fogo, e a sua queima independe da origem. Esta é a diferença primordial entre algo que foi consagrado e o que é de uso comum. Entre o que foi dedicado a Deus e o que é bem comunitário.

Comecei a escrever essa meditação depois que vi a reportagem que mostrou uma tosca réplica da Arca da Aliança sendo levada sobre um caminhão do Corpo de Bombeiros de Belo Horizonte, em carreata, para o templo dos Anjos, que fica naquela cidade. Isso pode ser verificado aqui: http://www.youtube.com/watch?v=ae3Fzusv7lM#t=19

Sob a legenda de constituir-se no maior símbolo do poder e da presença de Deus na terra, a tal arca causou uma enorme euforia geral entre pastores e membros da denominação promotora do evento. Nunca uma igreja promoveu um ato de fé como esse, dizia o locutor ensandecido. Ainda bem que é verdade, digo eu.

A heresia e o oportunismo do evento já foram devidamente denunciados por outros blogs de cristãos indignados. Portanto, vou passar por cima desses sórdidos detalhes para chegar mais rapidamente ao ponto que pretendo levá-los. Por que manifestações ridículas desse tipo recebem tanto apoio dos nossos governantes, enquanto que ações concretas de cidadania e de promoção social de praticadas por algumas igrejas de menor expressão são ignoradas, quando não são proibidas? Não tenho a menor dúvida de que a pessoa que autorizou o uso indevido de uma viatura funcional e estratégica do governo, pelo seu grau de instrução e pelo posto que ocupa, possa crer que aquela chanchada pornô venha a produzir algum tipo de bênção àquela população. Mas, ele tem a certeza de que se reverterá em prestígio e em votos.

Alguém tem aí um fogo mais estranho do que esse pra me dar? Para mim esse é o sinal derradeiro de que não estamos mais conseguindo diferenciar o comum do consagrado. Digo isso não levando em conta o fato de praticarmos impropriamente na igreja vários rituais igualmente ridículos e de mau gosto. Nem tanto também pelo fato de profanarmos o que já foi taxativa e historicamente consagrado, como a Bíblia, o batismo e outros. Mas pelo fato de estarmos levando fogo estranho à presença de Deus. Pelo fato também de desconsiderarmos completamente o enorme sacrifício que foi levado a cabo para nos libertar de vez de todas essas crendices e superstições.

Não sei ao certo se Deus está agindo conosco exatamente como fez com os filhos de Arão, e desde já nos considerando mortos e indignos da sua presença. Só sei que não vejo um fim ou mesmo um limite para essa associação espúria entre a igreja e o estado.

Onde estão os sacerdotes que deveriam estar vigiando o fogo consagrado para que ele não se apague de vez? Onde estou eu que não me coloquei à frente daquele caminhão impedindo que o mal passeasse em carreata pelas cidades do meu país? Onde está a igreja que continua sabendo pelos canais alternativos as falcatruas que os canais oficiais compactuam e escamoteiam?


Ps. Não deixem de acessar este blog amanhã, domingo 2 de fevereiro, quando completa dois anos de existência. O rev. Jonas Rezende preparou uma mensagem tão especial para essa data, que você não merece perder. Aproveitem também para dar  adeus a esse template, pois amanhã o blog estará de cara nova.
Ao sul do Irã, na cidade de Iazd, existe em um templo dedicado a Zoroastro que possui uma pira cujo fogo arde continuamente há mais de dois mil anos. Várias gerações de sacerdotes o tem vigiado alimentando-o com madeira de sândalo para que ele nunca se apague. Esse é um dado que pode nos dar tanto a noção do zelo dos povos semitas por seus objetos consagrados, quanto a dimensão exata da indignação contra os filhos de Arão por eles se apresentarem diante de Deus levando consigo o que o escritor bíblico chamou de fogo estranho.


O que chamou a minha atenção não foi propriamente a rigidez do ritual, mas a sutileza na identificação da origem do fogo, porque para nós fogo é fogo, e a sua queima independe da origem. Esta é a diferença primordial entre algo que foi consagrado e o que é de uso comum. Entre o que foi dedicado a Deus e o que é bem comunitário.

Comecei a escrever essa meditação depois que vi a reportagem que mostrou uma tosca réplica da Arca da Aliança sendo levada sobre um caminhão do Corpo de Bombeiros de Belo Horizonte, em carreata, para o templo dos Anjos, que fica naquela cidade. Isso pode ser verificado aqui: http://www.youtube.com/watch?v=ae3Fzusv7lM#t=19

Sob a legenda de constituir-se no maior símbolo do poder e da presença de Deus na terra, a tal arca causou uma enorme euforia geral entre pastores e membros da denominação promotora do evento. Nunca uma igreja promoveu um ato de fé como esse, dizia o locutor ensandecido. Ainda bem que é verdade, digo eu.

A heresia e o oportunismo do evento já foram devidamente denunciados por outros blogs de cristãos indignados. Portanto, vou passar por cima desses sórdidos detalhes para chegar mais rapidamente ao ponto que pretendo levá-los. Por que manifestações ridículas desse tipo recebem tanto apoio dos nossos governantes, enquanto que ações concretas de cidadania e de promoção social de praticadas por algumas igrejas de menor expressão são ignoradas, quando não são proibidas? Não tenho a menor dúvida de que a pessoa que autorizou o uso indevido de uma viatura funcional e estratégica do governo, pelo seu grau de instrução e pelo posto que ocupa, possa crer que aquela chanchada pornô venha a produzir algum tipo de bênção àquela população. Mas, ele tem a certeza de que se reverterá em prestígio e em votos.

Alguém tem aí um fogo mais estranho do que esse pra me dar? Para mim esse é o sinal derradeiro de que não estamos mais conseguindo diferenciar o comum do consagrado. Digo isso não levando em conta o fato de praticarmos impropriamente na igreja vários rituais igualmente ridículos e de mau gosto. Nem tanto também pelo fato de profanarmos o que já foi taxativa e historicamente consagrado, como a Bíblia, o batismo e outros. Mas pelo fato de estarmos levando fogo estranho à presença de Deus. Pelo fato também de desconsiderarmos completamente o enorme sacrifício que foi levado a cabo para nos libertar de vez de todas essas crendices e superstições.

Não sei ao certo se Deus está agindo conosco exatamente como fez com os filhos de Arão, e desde já nos considerando mortos e indignos da sua presença. Só sei que não vejo um fim ou mesmo um limite para essa associação espúria entre a igreja e o estado.

Onde estão os sacerdotes que deveriam estar vigiando o fogo consagrado para que ele não se apague de vez? Onde estou eu que não me coloquei à frente daquele caminhão impedindo que o mal passeasse em carreata pelas cidades do meu país? Onde está a igreja que continua sabendo pelos canais alternativos as falcatruas que os canais oficiais compactuam e escamoteiam?


Ps. Não deixem de acessar este blog amanhã, domingo 2 de fevereiro, quando completa dois anos de existência. O rev. Jonas Rezende preparou uma mensagem tão especial para essa data, que você não merece perder. Aproveitem também para dar  adeus a esse template, pois amanhã o blog estará de cara nova.

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