A mensagem da manjedoura

Presépio vivo de Francisco de Assis, Gozzoli em 1542
E isso vos servirá de sinal: encontrareis uma criança, envolta em trapos e deitada em um coxo de estábulo.

Soa totalmente estranho ter que anunciar para este mundo louco por poder que a existência real e concreta do ser humano nesta vida se fundamenta no amor. Soa mais estranho ainda ter que pregar para uma civilização que, em sua história jamais viveu um único dia sem guerra, que o que funciona
de fato é a paz e a boa vontade entre os homens. Mas será que existe alguém que não sabe que a essência da vida é amor e que a nossa relação com as pessoas deve ser de paz e não de guerra? É justamente por este motivo que todos nós estamos sob julgamento. É exatamente por sabermos dessas coisas que estamos sofrendo tanto. Este nosso sofrimento não faz outra coisa senão confirmar que esta realidade que estamos vivendo não é a realidade que deveríamos viver, ou seja, sofremos porque sabemos que deveríamos viver dando ênfase ao amor e à paz, mas, de modo adverso, enfatizamos o poder e à guerra. O que existe de mais intrigante é que a época do Natal realça este sentimento de tristeza pela nossa incapacidade de não fazer o que gostaríamos, e sim o que não gostaríamos de fazer. Mesmo sendo assim, existem muitos de nós que ainda creem que em um estábulo de uma aldeia insignificante no passado distante, Deus nos deu uma mensagem de esperança. O que será que Deus quis nos dizer com aquele nascimento?

Ele disse que o gentil, que o bondoso, o manso, o humilde e que o misericordioso vai prevalecer sobre o egoísta, sobre o orgulhoso e sobre o poderoso neste mundo presente. Deus está dizendo que no centro do universo criado por ele não há lugar para riqueza, nem para o poder, muito menos para o prestígio, mas somente para o amor compartilhado. Daquela manjedoura surge a mensagem que Deus está revelando a cada um de nós que a balança do universo não pende para o lado da força do poder, como parece, mas sim na força do amor. É na mensagem que afirma que no momento exato e no lugar perfeito Deus agiu, que aquelas pessoas citadas anteriormente mantém a sua esperança. Para estes, esta é a realidade que prevalece, não somente na época do Natal, mas em todos os dias de sua vida. É isso que as faz diferentes, é isso que as faz tão seguras de si, é isso que as faz abandonar todas as certezas desse mundo para abraçar esta realidade que somente eles veem.

Não é esta a hora e nem é este o local para enumerá-los, mas sabemos que para cada momento crucial da nossa história Deus providenciou um homem ou uma mulher que tentou desesperadamente mostrar ao mundo que a realidade era o sonho e não o que as pessoas estavam vivendo. Para nos mostrar que é possível, ou melhor, é inescapável esta realidade, porque eles e elas creem que a palavra final não está com o mundo, mas sim com o criador do mundo. Cabe a cada um de nós, pelo menos uma vez na vida, tentarmos experimentar o Natal da mesma forma que os visionários da nova realidade fizeram, se não conseguimos, precisamos orar assim:

Pai, assim como o Senhor agiu da maneira certa naquela noite, faça um milagre na nossa vida, faça nascer em nós esta esperança de amor e de paz, a despeito de tudo que somos e de tudo que fazemos para negar insistentemente esse amor e essa paz. Faça um milagre nas nossas casas, na nossa cidade, no nosso país, no nosso mundo para que passemos a crer na mensagem daquela manjedoura, para que o teu Filho não tenha nascido apenas em Belém da Judeia, mas que ele nasça também em nossos corações e em nossos relacionamentos, para que a história da nossa vida não seja uma história de tristeza pelo que não deveríamos ter feito, mas de alegria por termos tentado fazer o que a manjedoura nos constrangeu fazer.




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