O álibi de quem não tem (final)

Então, eu lhes disse: quem tem ouro, tire-o. Deram-mo; e eu o lancei no fogo, e saiu este bezerro. Ex 32.24
Ressurreição, Noel Coypel (1628-1707)
Primeiramente ele a usou para os hipócritas que gostavam de dar esmolas em locais públicos para serem elogiados. Lembrem-se disto, estes estão recebendo o que eles queriam: o elogio dos outros. Suas atitudes estavam ancoradas em princípios imediatos e perecíveis, por isso Jesus conclui que eles já receberam toda a recompensa. A segunda vez que a usou foi com os que gostavam de fazer orações em lugares onde pudessem ser notados e admirados. Lembrem-se disto, estes já receberam o que queriam, pois suas orações não eram dirigidas a Deus, mas serviam para os propósitos pessoais que lhes rendiam prestígio e admiração das pessoas.


Na terceira vez que usou este princípio, foi para aqueles que faziam caras tristes e inconsoláveis para que todos vissem que estavam jejuando. Lembrem-se disto, estes já receberam também o que queriam, mas somente o que queriam. Mais tarde Jesus falou que uma pessoa poderia ganhar o mundo inteiro, mas só isso, porque neste processo poderia perder a sua alma. Voltando a pergunta: O que estão recebendo estes que no mundo de hoje parecem que estão recebendo mais do que deveriam? O que estão recebendo estes que impunemente roubam e oprimem os outros sem que lhes sobrevenha qualquer condenação? O corrupto e o fraudulento podem receber uma posição de destaque e ser admirado por muitos, mas jamais se sentirão realizados vocacionalmente. Lembrem-se disto, eles já receberam toda a recompensa.

Se a justiça humana tem vida em si mesma, a justiça de Deus muito vida própria tem. Por isso ela é tão difícil de se ver. Nem sempre ela é administrada aos nossos olhos ou no nosso tempo. Mas podem ter a certeza de que a justiça de Deus prevalece. Prevalece agora mesmo, e prevalecerá para sempre. Eu lancei o ouro no fogo e saiu este bezerro. Paulo colocou esta verdade mais evidente ainda: Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna. (Gl 6.7s) Ainda assim, nenhum ministro do evangelho pode parar aqui e simplesmente deixar que a justiça de Deus siga o seu curso. A criação de Deus é moral. O nosso universo não é indiferente à moralidade. Por mais que se ache que não vai dar em nada, que se pode torcer a justiça e corromper o direito. Por mais que esta nossa realidade possa parecer definitiva, não se enganem. De Deus não se zomba.

As consequências dos nossos pecados não podem ser apagadas, mas os nossos pecados podem ser perdoados. Existe retribuição nesta vida, mas existe também a misericórdia de Deus. Aarão pecou feio, e fez o povo pecar feio também, mas Moises intercedeu e trouxe a graça. Segundo a Teologia moderna, Deus mudou a sua mente com relação ao pecado do povo. Se você se ente amarrado a uma vida frustrada, e está desiludido completamente que não vê saída para esta nossa situação de pecado, tente entender o que disse o teólogo Paul Tillich sobre a providência de Deus: A providência divina não significa que Deus tem tudo planejado, como costumamos pensar. A providência divina não quer dizer que Deus tem predestinado tudo. A providência divina significa que existe uma possibilidade criativa, uma possibilidade redentora, e esta possibilidade é implícita, é incluída em cada situação desta vida e que não pode ser destruída por nada ou por ninguém.

O povo no deserto foi perdoado, a promessa foi renovada, e nenhum daqueles permaneceu para sempre presa à consequência dos seus atos. A cruz nos mostrou para sempre que Deus está sempre no melhor dos seus planos quando o ser humano está no seu pior. Este é o mistério da cruz, esta é a expectativa da Quaresma. Um tempo de reflexão sobre a nossa situação pessoal e social, não para a desilusão ou para desistência, mas para a certeza de que Deus nos espera fim desta caminhada sombria e cheia se incertezas com a maravilhosa luz da ressurreição.

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