O que é SABEDORIA?

Judith e Holofernes, Viktor Vasnetsov (1848-1926)
No Oriente Antigo a sabedoria tem características contraditórias: ela é uma qualidade natural que se desenvolve por educação e experiência, mas também é um atributo próprio da divindade, a qual reserva para si o direito de gratuitamente dá-la a quem desejar. Estas concepções nasceram em ambientes diferentes. A primeira nos palácios e nas escolas dos escribas, a segunda, da fé em um ou mais deuses que tem a sabedoria como característica típica. É uma força misteriosa que provém de um Deus, como se fosse o seu espírito.

Em Israel a sabedoria tinha um sentido prático que nem sempre tinha conteúdo moral, pois sábios eram o perito, o conselheiro, o artífice, o esperto o ancião e o rico. A partir do século VIII a.C. os sábios passaram a ser contados entre as classes dirigentes, junto aos sacerdotes, profetas e militares, não tanto quanto estes pela sabedoria, mas pelas riquezas que acumularam. Era este o principal tipo de sabedoria que eles queriam transmitir aos seus filhos, eternizando assim a sabedoria no seio da família. Mesmo depois da queda da monarquia, esses sábios não desapareceram, mas passaram a negociar a sua sabedoria e a ocupar cargos de poder religioso e político. A literatura sapiencial condenava esta prática com veemência, atestando que a sabedoria tinha por finalidade ensinar a arte de viver e de ser feliz, por isso a chamava com frequência de fonte, árvore ou caminho da vida. Tinha também a sabedoria como uma ética, que visando interesse próprio proclamava o temor a Deus como o princípio de toda a sabedoria. Este caráter moral e religioso teve a sua origem fora do ambiente profético. Vem daí a falta de senso coletivo no uso da sabedoria.

Na literatura mais recente ela continua a ser uma qualidade natural do ser humano desenvolvida sob orientação do Espírito de Deus. Deste modo, os sábios vão ocupar o lugar deixado pelos profetas, fazendo com que sabedoria e ação do Espírito se tornem sinônimos. Neste sentido, a sabedoria vai atingir o grau de independência que os gregos chamavam de hipóstase, ou existência individual. Vai, por assim dizer, ser quase tão autônoma quanto o Espírito de Deus: A Sabedoria edificou a sua casa, lavrou as suas sete colunas. Já deu ordens às suas criadas e, assim, convida desde as alturas da cidade: Vinde, comei do meu pão e bebei do vinho que misturei. O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência. (Pv 9.1,3,5 e 10) Notem que a sabedoria, que foi escrita com letra maiúscula, se difere do seu uso, que foi escrita com letra minúscula, denotando assim a sua auto suficiência.

A sabedoria humana, tão exaltada no Primeiro Testamento, é raramente estimada no Segundo. Seu valor é reconhecido unicamente quando esta é orientada para um ideal moral e religioso. O conhecimento ou a ciência puramente humanos são desaprovados tanto por Paulo quanto por Tiago, pois são fruto da carne, do mundo e do demônio. A verdadeira sabedoria, para eles, é um dom de Deus, que faz o homem ser suscetível à revelação dos planos de salvação de Deus e agir segundo a vontade dele. Para os que creem, Cristo crucificado é a sabedoria de Deus, para os que não creem, é loucura. Cristo é a perfeita revelação de Deus, a fonte da mais pura e verdadeira sabedoria. Uma sabedoria que foi manifestada desde a criação e se conserva permanentemente no governo do mundo. Uma verdadeira lástima para os pregadores do caos, para aqueles que anunciam que o mundo jaz no maligno e para quem aposta no fim trágico da humanidade. 

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