Depois do temporal (final)

Elias arrebatado ao céu, Giuseppe Angeli (1712-1798)
O que você está fazendo aí? Esta é uma pergunta que não somente incorpora várias outras, como também se apresenta de forma atemporal. Deus simplesmente está lhe perguntando: o que você fez até agora? O que você está fazendo agora? E o que você vai fazer daqui para frente? A primeira questão temporal diz respeito à instalação de Jezabel através de uma aliança expressamente proibida por Deus. Na realidade, as alianças políticas de Israel sempre foram desastrosas. Uma frase que foi criada pelos profetas para explicitar este recorrente erro dos governantes, serve para nos dizer o quanto às alianças que não estão de acordo com a vontade de Deus são prejudiciais: Foi buscar socorro no Egito. Israel foi buscar socorro em quem não podia socorrê-lo, e que na realidade passada já mostrara perigosamente traiçoeiro. 


Eu não gosto nada dessa expressão, mas para Acabe ela se aplica bem: Trouxe o diabo para dentro de casa. O clima do país, que já não era bom pelos sucessivos governos equivocados, tornou-se exponencialmente ruim com a chegada de Jezabel. O que você fez que permitiu esta aliança, Elias? Por que você deixou a situação piorar tanto? Você era um profeta de Deus, e os profetas são chamados para confrontar estas situações. Permitir que o temporal venha e se instale. O primeiro grande erro. O que você fez, Elias?

A segunda questão neste episódio são as medidas paliativas. Desafiar os profetas de Baal pode ter tido muito impacto, pode ter mostrado muita determinação, pode ter criado um clima de expectativa, mas resultado prático, nenhum. Elias pode ter se livrado de algumas consequências, mas a verdadeira causa ainda estava lá. Matou uns diabinhos, mas o Satanás ainda estava vivo e atuante. O que dizer da decisão de fugir para longe? Eu gosto muito do texto em que Deus constitui Jeremias profeta sobre as nações. Ele diz para este profeta o seguinte: Não tenhas medo dos teus adversários, senão eu te farei ter medo deles. Deus está nos dizendo: Você não conhece o medo. Elias também não conhecia até ficar frente a frente com Deus.

Para quem pensava que o terror instaurado por Jezabel era grande, testemunhar as forças da natureza agindo sob o comando de Deus era demasiado forte. Nem mesmo a experiência da proximidade da morte pode ser equiparada. Aliás, morrer é uma das cláusulas contratuais. Paulo, que foi sabiamente plagiado pelo Djavan, dizia: Sou uma ovelha destinada ao matadouro. O que é o sofrer para mim que estou jurado pra morrer de amor? Você foi chamado para morrer, e não para fugir. O sangue dos profetas anônimos que morreram em seu lugar clama alto e forte. Você jamais poderia deixar que a morte deles fosse em vão, assim como está sendo vã a morte daqueles que foram perseguidos e mortos para nos legar um evangelho sem mácula. O que você está fazendo, Elias.

Mas a questão crucial é realmente a terceira: o que fazer daqui para frente? A causa do temporal permanecia e as suas conseqüências continuavam crescendo. Elias precisava voltar pelo mesmo caminho que veio. Precisava contemplar os rostos daqueles a quem tinha decepcionado. Inverter a direção de cada pegada que marcou a sua fuga e ousar fazer o impensável até então. Clamar contra a estrutura do poder central, não somente em Israel, mas na origem de toda a idolatria, no quartel general do paganismo, que naquela época era a capital da Síria. É lá que a luta teria que começar. Precisava também garantir a sua sucessão. Não permitir que a Palavra de Deus sucumbisse juntamente com a sua morte. Ele precisava ungir Eliseu profeta em seu lugar. Por mais determinante que seja a evangelização, ela ainda é submissa a ordem de fazer discípulos.

Acabei mudando o enfoque que deveria ser sobre meu temporal para o de Elias. Mas estejam certos de que cada situação do profeta foi assimilada como sendo minha própria. Contudo, o fato que mais aproxima a minha vida da deste profeta são vocês leitores que me acompanham. Vocês são a prova mais cabal que nem tudo está perdido, vocês são os sete mil que não dobraram os seus joelhos diante dos deuses da opressão e da inconseqüência. Vocês são a razão deste blog. Muito obrigado por tudo isso.

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