Maria

A Virgem, Sant'Ana e Jesus, Da Vince em 1513
A filha de Sião
Maria aparece nos evangelhos primeiramente como uma das numerosas Marias que existiam no seu tempo. Seu nome herdado da irmã de Moisés era frequente e no aramaico significava princesa ou senhora. Lucas mostra em Maria uma piedosa mulher judia, fielmente sujeita à Lei e que exprime nos próprios termos ao desafio da mensagem divina: Lc 1.38 - Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra.


Seu magnificat é uma bela composição inspirada nos salmos e no cântico de Ana: I Sm 2.1-10 Mas Maria rapidamente mostra que não é uma simples mulher judia. Nas cenas da Anunciação e da Visitação ela se apresenta como aquela que personifica a parte boa e honrosa do povo de Deus, a já costumeiramente exaltada Filha de Sião. O título de “Cheia de graça” é o fruto por excelência do amor de Deus, que relembra a “esposa” a quem o próprio Deus elege e glorifica.

Sozinha, diante de tantas incertezas, recebe o anúncio de que a salvação poderá vir através dela. Muito aquém de compreender os acontecimentos grandiosos nos quais se vê envolvida, ela mostra a sua gratidão pessoal por ser a escolhida para consumar as promessas feitas a Abraão: Lc 1.46ss - Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. 

A Virgem
O fato da virgindade de Maria na concepção de Jesus é afirmado por Mateus e Lucas. Segundo João, Jesus é aquele que nem sangue e nem carne engendrou. A virgindade no momento da anunciação também é posta em relevo na sua objeção à certeza do anjo: Lc 1.34 - Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?

Lucas reafirma que Maria é virgem no momento da concepção. Teria ele pretendido dizer, assim como mais tarde disse Santo Agostinho, que Maria se guardou virgem por vontade própria. Alguns bons exegetas traduzem esse texto assim: uma vez que eu não quero conhecer homem algum. Assim, a concepção virginal aparece menos com uma exigência divina do que como uma decisão voluntária, que é tomada no ato da Anunciação.

A Mãe de Jesus
Em todos os níveis da tradição evangélica Maria é antes de tudo a mãe de Jesus. Vários são os textos que a designam com este título, que também define toda a sua função na obra da salvação. Sua tarefa de criar e cuidar do Salvador do mundo vai além das atribuições e atribulações de uma mãe comum. O cântico de Simeão confirma toda a sua apreensão quanto ao futuro de filho que lhe foi confiado: Lc 2.30ss - porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel.

Maria continua mãe de Jesus quando este chega à idade adulta. Seus relacionamentos se resumem a separações dolorosas. É aí que Maria toma sobre si uma nova função. Declarando a autoridade de Jesus aos servos das bodas de Caná, ela define seu papel como anunciadora daquele a quem todos devem obediência e submissão: Jo 2.5 - Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. Maria praticamente desaparece como mãe por trás do novo desafio de ser uma crente fiel.

Esse despojamento culmina na cruz. A consumação da missão do filho transpassa-lhe a alma. No Calvário se completa a sua maternidade. Em pé, junto à cruz, ouve de Jesus que suas obrigações de mãe para com ele chegaram ao termo da perfeição. O seu amor maternal, contudo, não deveria se esgotar, mas seria dedicado doravante a João que, por sua vez, assumiria integralmente as atribuições de filho. Um novo filho sobre quem repousa todo o cuidado que Jesus teve para com a sua igreja e para com todos aqueles a quem chamou de mãe, pai, irmão e irmã.

A atitude para com Maria de todo cristão que crê no evangelho deve ser determinada pela sua própria profecia: Lc 1.48b - Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas.

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