A regressão e o salmo 139

 Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno. Leia o Salmo 139

Salmo 139, extraído de www.rowandahl.com
Até onde pude me informar, a prática da regressão, tecnicamente chamada de Terapia de Vidas Passadas ou TVP, foi introduzida em 1967, como resultado final do estudo de uma corrente terapêutica composta de renomados doutores em psicologia, chefiada pelo Dr. Morris Netherton.


Não precisamos inferir que este estudo se fundamenta na doutrina Espírita formulada pelo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, sob o pseudônimo de Allan Kardec, que em seu Livro dos Espíritos afirma o seguinte: Ao entrar na vida corporal, o Espírito perde, momentaneamente, a lembrança de suas existências anteriores, como se um véu as ocultasse; entretanto, às vezes, tem uma vaga consciência disso e elas podem até mesmo lhe ser reveladas em algumas circunstâncias. Mas é apenas pela vontade dos Espíritos Superiores que o fazem espontaneamente, com um objetivo útil e nunca para satisfazer uma curiosidade vã.

Nada pode ser mais natural para os adeptos dessa doutrina do que acreditar tanto na veracidade da TVP quanto na sua eficiência. Se eu acreditasse que teria vivido outras vidas, procuraria saber quem fui e o que fiz no passado, pelo menos para tentar não repetir as mesmas idiotices, claro! O problema imediato que esta doutrina apresenta para os adeptos do Cristianismo é que ele prega uma fé que se fundamenta na ressurreição após a morte, o que não nos possibilitaria viver outras vidas, e não na reencarnação.

Apesar de tudo, esta prática penetrou nos meios evangélicos disfarçada com o nome de Regressão Espiritual, segundo consta, através do movimento chamado G12, do qual não possuo maiores esclarecimentos. Tem como proposta básica tratar, pela cura interior, feridas não curadas da alma, rejeições que trazemos desde o ventre materno e desgraças que herdamos dos nossos antepassados, ao que se deu o pomposo nome de maldições hereditárias.

Sem querer entrar nesta polêmica que já dura algumas décadas, gostaria de contrapor essa doutrina a um velho salmo atribuído ao rei Davi que foi catalogado na Bíblia como o salmo 139, onde encontramos a verdadeiramente bíblica regressão.

Começa dizendo o salmista: Tu me sondas e me conheces. Sabes quando me deito e quando me levanto. Sabes também o que penso, mesmo antes que eu pense. Tudo isso Davi atribui a um conhecimento tão elevado que ele sequer consegue tocar. Em rápidas palavras, Davi está declarando que ninguém o conhece mais do que Deus, nem ele mesmo. Se existe alguém que pode esquadrinhar a vida humana esse alguém é Deus.

A partir desse conceito, o salmista tenta imaginar um local de fuga. Um ponto no espaço onde essa influência não se faz presente. Ele o faz através de uma pergunta simples: Para onde fugirei da ta face? Não para o norte, nem para o sul. Nem no infinito, nem na escuridão. Nem de dia, nem de noite. Depois de muito refletir não encontra esse tal local nem mesmo no mais profundo abismo, ou quinto dos infernos, se assim preferirem.

O que Davi diz em seguida é para matar de inveja todos os pretensos perscrutadores de passado: meus ossos não te foram encobertos enquanto eu estava sendo entretecido, e os teus olhos viram a minha substância ainda informe. É bom que se diga que isso vale para qualquer geração anterior ou posterior a Davi. Ou seja, é eficaz também naqueles que poderiam que deixar alguma herança nefasta.

Depois de tudo que vimos, não podemos dizer que este salmo é propriamente uma regressão. Ele é sim uma enorme progressão nos aspectos morais, psicológicos e espirituais da nossa vida. Saber que Deus conhece todos os nossos fracassos, frustrações e omissões e que estes já foram perdoados e esquecidos por ele, já no induz a fugir de qualquer tipo de regressão, que de ter que vasculhar os porões da nossa alma para saber quem somos. Nós sabemos quem somos. Nós somos como esse Davi do salmo, que por mais que as nossas iniquidades neguem, por mais que nos ocultemos da verdade, por mais que fujamos da sua face, ele nos encontra porque nos conhece.

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