A fita de Moebius Blackfriday

Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos. Romanos 16.17s
Fita de Moebius
A fita de Moebius foi uma descoberta independente dos matemáticos alemães August Ferdinand Möbius e Johann Benedict Listing que em 1858 a apresentaram como um enigma insolúvel. Basicamente ela é uma fita que quando as duas pontas se unem perde totalmente as suas características, e estranhamente passa a ter apenas um lado. Isso mesmo. Qualquer convicção de que se tenha visualmente da existência dos dois lados, é derrubada quando um dos supostos lados é percorrido continuamente e se verifica que de fato ela tem apenas um lado. Ou seja, podemos até ver os dois lados, mas a verdade é que só existe um.

Lembrei-me deste fenômeno matemático quando avaliava os efeitos do blackfriday tupiniquim que aconteceu na semana próxima passada em nosso país. Pude ver claramente, neste simples e glorioso evento, o quanto somos tentados e engodados pela enganação da mídia e dos grandes conglomerados. Pude perceber também o quão inocentemente nos sensibilizamos aos apelos de um fato histórico, sem que com ele tenhamos qualquer relação ou mesmo o mais sutil conhecimento.

Assim como nos EUA e no Canadá, o nosso blackfriday aconteceu no dia seguinte ao Dia Nacional de Ação de Graças, mas com impactos e propósitos totalmente diferentes. O blackfridey americano foi criado para ser uma resposta dos homens e mulheres de negócio à data festiva que relembra a vitória heroica dos peregrinos contra as intempéries da Nova Inglaterra, que nesse dia, não como indivíduos, mas como nação, agradeceram a uma consciência mais elevada que os inspirou e os amparou nessa luta. Lá as mercadorias têm seu preço, e, consequentemente, o lucro reduzido porque a consciência da quase necessidade de gratidão toma conta daquela nação. Convém lembrar que foi uma vitória obtida pela união de colonos e índios que professavam diferentes credos. Ou seja, lá é uma comemoração suprarreligiosa.

Bom, e aqui? Qual é o apelo? Qual é a motivação da data? O que estamos comemorando? A quem somos agradecidos? É triste notar que, na contramão de outras festividades importadas, como recentemente o Haloween, que a cada ano ganha mais vulto e adeptos, o nosso Dia Nacional de Ação de Graças ano após ano tem perdido mais significado e mais celebrantes, inclusive nas igrejas protestantes tradicionais.

Desse nosso relaxamento a mídia soube se aproveitar muito bem. Imediatamente percebeu a oportunidade de transformar essa data de reflexão e gratidão em mais boom para alavancar as suas vendas. Foi fácil demais nos enganar. Deixamos de ir às igrejas no Dia Nacional de Ação de Graças, para acordarmos cedo, e estarmos de prontidão antes das grandes lojas abrirem as suas portas.

Não vou nem entrar na questão dos falsos descontos, mesmo porque, como bem disse o apóstolo Paulo: esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre. Eles não têm qualquer motivo para reduzirem seus lucros, e a sua gratidão esta intrinsecamente ao aumento das vendas, visto que junto com o espantoso aumento de 95% nas vendas veio também um aumento exponencialmente maior das reclamações e denúncias. O que se podia esperar?

Paulo na Carta aos Coríntios diz: Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel. A fita de Moebius tem a muito a nos ensinar nessa hora. Por mais que a igreja se veja caminhando ao lado de Cristo, e sinta que caminha do lado oposto ao que o mundo caminha, a história insiste em nos fazer ver que caminhamos do mesmo lado que ele, o mundo. No frigir dos ovos vamos perceber com surpresa que seguimos exatamente os seus propósitos e somos totalmente sensíveis aos seus apelos. 

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