Nós e Nossas Orações V

Mulher orando, Matthias Grünewald
Tradução, feita por João Wesley Dornellas, em maio de 2005, do capítulo inicial do livro “The Plain Man´s Book of Prayers” (“Orações para o Homem Comum”).

Existe a Intercessão. Nela assumimos as necessidades do mundo e as apresentamos diante de Deus para sua bênção e ajuda. Recordamos ante Ele aqueles que estão enfermos e aflitos e, também, os que sabemos em particular que necessitam suas bênçãos. Em especial, pedimos na intercessão que Deus abençoe e proteja aos que nos rodeiam e a quem amamos. Sempre nos dará consolo e paz espiritual deixar os
que amamos nas poderosas mãos de Deus. No princípio dissemos que a oração é a atividade mais comum do mundo. Posto que, realmente, ela é, deveríamos orar de maneira totalmente natural. Não existe uma postura determinada para orar. Não importa se nos ajoelhemos, se estamos de pé, assentados ou até deitados. Só há uma condição: estar numa posição em que percamos a consciência de nossos corpos. Qualquer incômodo corporal basta para afastar nossos pensamentos do que estamos fazendo. Devemos encontrar a postura que nos permita orar com inteira liberdade.

É, todavia, mais importante recordar que não existe uma linguagem especial para orar. Não é necessário usar uma terminologia bíblica ou de manual de orações, como tampouco os arcaísmos. Podemos falar com Deus com a mesma desenvoltura e naturalidade com que nos dirigimos a um amigo íntimo pois Deus é esse amigo. Conta-se que, certa vez, houve um homem que desejava orar mas não sabia como começar. Um sábio amigo lhe disse : “Assenta-te sozinho em tua casa. Coloca uma cadeira vazia à sua frente e imagina que Jesus está sentado nela. Fala com Ele como farias com teu amigo mais íntimo.” Deus não se fixa numa linguagem depurada nem numa correta forma gramatical. Ele não está preocupado se oramos com frases bem construídas ou não. Tudo o que deseja é que nos comuniquemos com Ele. Formalismos de postura e de linguagem não lhe dizem nada. Ele quer que nos sintamos em casa na presença dele e que falemos com Ele como se fala a um amigo. Porque Deus é nosso amigo, há algo que devemos recordar com respeito à oração. Um aspecto lamentável de nossa atitude ao orar está em que muitos de nós relacionamos a oração com as emergências e crises da vida.
Quando estamos atribulados, quando enfrentamos a morte e a dor, quando estamos enfermos e nossa vida corre perigo, quando temos preocupações e ansiedade e, ainda, quando nos achamos longe de nossos seres queridos, então oramos. Quando nossa vida é normal, no entanto, e quando as coisas seguem seu curso natural, quando brilha o sol e o clima é agradável, nos esquecemos de orar. Procedendo assim, é como se nós somente nos recordássemos de nosso melhor amigo quando temos problemas e necessitamos que ele nos preste um serviço. É inevitável que haja momentos em que a oração é mais intensa do que em outros porém devemos convertê-la em algo permanente.

O Dr. Johnson disse : “Um homem, senhor meu, deveria ter sua amizade em constante reparação”. Nossa amizade com Deus deveria ser cotidiana e permanente. Bertram Pullock foi bispo de Norwich e a vida de um bispo costuma ser muito atarefada. Nas memórias que sua esposa escreveu a respeito dele, ela conta como ele havia disposto certas horas do dia para orar. Não importando quem viesse vê-lo nesses momentos, ele dizia: “Faça-o esperar na sala e diga que espere. Tenho uma entrevista com Deus”. Nós também deveríamos ter cada dia nossa própria entrevista com Deus e esse compromisso deve ser tão prioritário que nada possa interrompê-lo. É realmente vergonhoso dirigirmo-nos a um amigo somente quando precisamos dele ou quando queremos pedir-lhe algo. Também é vergonhoso quando tratamos a Deus como alguém a quem recorremos unicamente quando temos dificuldade e tudo nos vai mal. De dia e de noite devemos ter tempo para estar com Deus.

Temos deixado o mais importante para o final. Até agora temos procedido como se a oração consistisse unicamente em falar com Deus. A oração não é um monólogo no qual somente nós falamos. Orar significa escutar mais do que falar. A manifestação mais sublime da oração consiste no silêncio durante o qual aguardamos a Deus e o ouvimos. Nossa imagem da oração será muito pobre se a considerarmos apenas um modo de dizer a Deus o que queremos que Ele faça. Orar implica antes de tudo ouvir a Deus quando Ele nos manifesta o que espera que nós façamos. A oração não é uma maneira de utilizar a Deus mas um meio de oferecer-nos a Ele para que possa dispor de nós. Uma de nossas maiores falhas ao orar é certamente a falar demasiado e de escutar muito pouco. Quando a oração se encontra em seu ponto culminante aguardamos em silêncio a voz de Deus; nos achamos em sua presença a fim de que sua paz e seu poder repousem sobre nós e ao nosso redor. Assim, somos acolhidos em seus eternos braços e experimentamos a serenidade que emana da plena confiança nele. Se temos presentes estas coisas, nossa oração não será uma rígida obrigação, uma insípida rotina nem uma tarefa convencional. Pelo contrário, será a coisa mais importante de nossa vida pois em seu poder sairemos vitoriosos sobre qualquer dificuldade que a vida nos apresente.

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