O que é PROFETA? final

Martírio de Estevão, Lorenzo Lotto
Ao comparar a situação vigente com a vontade de seu Pai, Jesus não tem alternativa senão fazer coro com as teorias apocalípticas, porque Jerusalém não só continua matando os seus profetas, como terminara de matar o
maior de todos, João Batista. Sua mensagem se volta também contra aqueles que sobrecarregavam o povo com preceitos legais providencialmente equivocados em nome de Deus. Preceitos esses que nem mesmo eles cumpriam à risca. Censurou severamente estes que tinham as chaves do Reino, mas não entravam e não permitiam que ninguém entrasse. Vem deste sentimento de indignação as suas profecias contra a cidade e o templo. Por mais que valorizasse o este último, expondo-se ao perigo para purificá-lo na sua investida desesperada contra os vendilhões, deixou claro que o culto perfeito seria celebrado apenas após a sua destruição total. Mas nem isso tirou dele o ímpeto de ajudar as pessoas necessitadas, de curar os enfermos e de dar a esperança de uma nova ordem mundial. Jesus é reconhecido pela multidão como sacerdote, profeta e rei. Mesmo rejeitando por mais de uma vez a coroa sob a alegação de que seu reino não era deste mundo, aceitou de bom grado os outros dois títulos e tratou de levá-los ao pleroma, à plenitude da perfeição. João, o evangelista, compreendeu muito bem esta iniciativa de seu mestre, e percebeu que em Jesus a mensagem se confundia com o mensageiro, por isso o chamou de Logos Divino e de a Palavra que se fez carne.

Mas as profecias um dia desaparecerão, afirmou Paulo. Este não foi um desejo genuinamente paulino, os judeus, há séculos, já tinham a expectativa de que quando o Messias viesse, não haveria mais necessidade de profecia, porque ele é o intérprete maior da lei. Paulo faz coincidir o fim da profecia com o fim dos tempos, e fundamenta sua tese num desejo antigo de Moisés, que gostaria que todo o povo profetizasse, e numa profecia de Joel, quando Deus derramaria seu Espírito sobre toda carne. Na realidade o que Paulo disse já está acontecendo. O carisma da profecia é muito mais frequente hoje do que nos tempos passados. Logicamente que não falamos das profecias que escamoteiam adivinhações e prognosticações. Práticas que foram severamente proibidas no meio do povo de Deus. O profeta do Segundo Testamento não tem a autorização de predizer o futuro, Jesus nos disse que não nos cabe conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou exclusivamente para si. O profeta atual é aquele que exorta, que ensina e que consola.

A visão privilegiada do profeta o faz ver a verdadeira situação em que a igreja se encontra em relação ao mundo à sua volta, e definir o que deve ser feito para que ela se mantenha firme no propósito de salvar o mundo, desviando-se sempre da tentação de se amoldar a ele e guardando-se de se conformar com as coisas do presente século. O profeta atual deve estar consciente de que as perseguições, torturas e martírios serão tão reais e frequentes como as que sofreram os profetas do passado. Porém, nem mesmo os privilégios ou os encargos da função profética colocam nas mãos dele o governo da igreja por direito. Pelo contrário, sua função é iminentemente servir, e isso faz dele o servo de todos.

Sei muito bem que esta série de reflexões sobre a história e sobre o conteúdo da profecia na Bíblia tende a cair no vazio tanto pela necessidade do povo em querer saber antecipadamente o seu destino, como se este estivesse indelevelmente traçado, não acreditando que a intervenção de Deus possa completamente subverter a ordem das coisas, como também pelo oportunismo dos meus colegas pastores em reter avidamente uma autoridade que lhe é conferida indevidamente. Enquanto houver quem acredite que a intervenção de uma pessoa, seja ela um pastor, um bispo ou outra designação eclesiástica qualquer, possa sensibilizar o coração de Deus mais do que s súplica sincera e oculta daquele que se sente na condição de não merecer nem favor nem graça, existirão também aqueles que farão da profecia uma fonte de lucro e um meio de projeção em uma sociedade que insiste em não dar ouvidos a verdadeira profecia. Enquanto isso acontecer, não faltarão também tiranos que, a exemplo de Pol Pot, o cruel ditador cambojano, farão o povo crer pela força das armas que “a liberdade é a ausência de escolhas”. 

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