O que é PROFETA? III

João Batista, B.Veneto(1502-1546)
Olha que hoje te constituo sobre as nações e sobre os reinos, para arrancares e derribares, para destruíres e arruinares e também para edificares e para plantares. Este simples chamado de Jeremias encerra toda a ação profética na nova ordem mundial. O profeta de Deus veio para anunciar o castigo e a salvação. Da mesma forma com que Deus fez Abraão conhecer o futuro de Sodoma e Gomorra, ele faz os seus profetas reconhecerem o castigo e a salvação se darão através de fatos históricos que, com data marcada ou não, jamais deixariam de acontecer. Este grande dia determinado por Deus e esperado pelos profetas recebeu até mesmo um nome, O Dia do Senhor, o dia
em que o homem fugir de um leão e deparar-se com um urso, segundo Amós, e o dia que a vinha decepcionante será arrancada pelo próprio agricultor. Este é o aspecto de arrancar, derrubar, destruir e arruinar da mensagem profética, indicando o rompimento total com a ordem econômica mundial antiga.

Mas o profeta também fala em edificar e plantar. E este é o aspecto mais singular de Deus com a sua criatura, o triunfo do perdão de Deus sobre o pecado do homem. A nova aliança não vem como a anterior, através de uma voz que fala da montanha em meio a trovões, fumaça e fogo, que causa horror e espanto, mas sim através de um casamento. Não mais um contrato de obediência imposto pelo poder de quem manda, mas um contrato de um amor que não faz avaliação de culpa, faz sim o impensável até então. Faz o que fez o profeta Oséias: perdoou a esposa adultera, resgatando-a da prostituição, e fez isso sem que ela demonstrasse arrependimento, fez simplesmente porque a amava.

O exílio foi a sentença, agora é a hora da misericórdia. Desta nova ordem a lei não é suprimida, mas ganha um novo lugar. A condição da antiga aliança passa a ser uma consequência da nova aliança. Esta seria a primeira grande novidade que seria seguida de outras, através da reinterpretação da revelação bíblica. Os profetas são aqueles que Blaise Pascal chamou de “os cristãos da lei antiga”. As visões que os profetas tiveram do castigo, transformaram-se em visões da graça eterna que o homem não pode alcançar por si mesmo. Não tão claras e precisas, mas em breves relances de um futuro particular e privilegiado. Mas se não são tão precisas, alcançam um futuro mais longínquo e com maior abrangência, porque agora estarão incluídos também os gentios de todas as raças, e não judeus de todos os povos.

O Segundo Testamento chegou com a consciência de cumprir as promessas do Primeiro. Fiel à tradição profética do passado, este Testamento vem confirmar que a fé é algo para ser vivido nas experiências diárias. Não mais em um dia determinado, ou numa celebração específica. Por conta disso, os evangelhos tomam emprestados textos antigos para realçar traços particulares da vida de Jesus. O texto que narra o encontro de Jesus com os caminhantes de Emaús expõe de maneira clara a relação da profecia com a promessa. O mistério de Cristo foi antecipado por Abraão, por Moisés, pelos profetas e até mesmo pela sabedoria popular, através dos Salmos.

O ministério de Jesus já começa apresentado por Zacarias, Simeão e Ana, e indubitavelmente apontado por João Batista. E é este último que faz realçar a diferença entre o profetismo antigo e o seu objeto, que é Cristo: Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. (continua)

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