Quanto tempo esperaremos ainda? III

Pentecostes, Antoon van Dyck (1599-1641)
Eles precisavam tempo para confiar em suas próprias experiências com Deus. Jesus sempre foi um mestre criterioso. Ele nunca tentou fazer lavagem cerebral em qualquer dos seus discípulos. Também nunca fez com que os seus seguidores fossem dependentes demais da sua presença. Deu a eles tarefas importantes e as fez cumprir sozinhos, chamou-os de amigos e por várias vezes os fez saber que a sua confiança neles era grande. Mas a partir dali eles precisavam estabelecer outro tipo de relacionamento com o seu mestre.

Na população judaica da época de Jesus havia dois grupos: os não familiares com Deus e os familiares demais. As crianças, as mulheres, os necessitados e os doentes faziam parte do primeiro grupo. Já os anciãos, escribas, sacerdotes e fariseus faziam parte do segundo. Eu acredito que a maioria dos cristãos de hoje faça parte deste último grupo. Assim como os escribas e fariseus da época de Jesus, nós também sabemos tudo que precisamos saber sobre a nossa fé. Isso nos faz familiares demais com as coisas de Deus, e aí está o nosso problema. Assim como Jó no seu primeiro estágio, conhecemos Deus apenas de ouvir falar. Mas não foi assim com os primeiros cristãos. Eles não tinham ninguém mais experiente naquele grupo. Eles não tinham ainda um apóstolo como Paulo. Eles não tinham nem o Segundo Testamento para ler e meditar. Não tinham um livro sequer sobre a história da igreja, porque, de fato, a igreja ainda nem tinha história. A alternativa era confiar nas suas próprias experiências com Deus. Eles tinham que confiar plenamente no seu próprio discernimento de Deus. Eles tinham que firmar a sua fé em cima as respostas que receberam de Jesus sobre seus questionamentos.

Uma das causas, senão a maior, do marasmo em que vive a igreja hoje é a nossa tendência em começar com as respostas que os cristãos do passado nos deram. Ninguém mais quer experimentar, ninguém quer mais se lançar no inusitado. Nós já sabemos como são e como devem ser as coisas de Deus. Nós sabemos tudo sobre a vida cristã porque os mais experientes nas coisas de Deus já nos disseram como ela deveria ser.

Damos sempre graças a Deus pelos nossos heróis e heroínas na fé. Damos graças a Deus pela história da nossa igreja e pela história da Igreja Cristã. Damos graças a Deus pela sua tradição, pela sua participação. Damos mais graças a Deus pelos homens e mulheres que se dispõem a largar tudo e mergulhar numa nova experiência no ministério cristão, indo onde Deus os enviar. Tudo isso é muito válido. Mas deixa no ar uma pergunta: Onde estamos nós neste exato momento? Estamos aguardando na sala de espera? Estamos numa fila? Estamos irritados com Deus por causa disso? Estamos desesperados para começar a trabalhar, para dar início ao nosso ministério? Estamos aflitos para fazer qualquer coisa pelo evangelho? Wesley disse aquela frase quando foi proibido de pregar nas igrejas tradicionais. Subiu no túmulo do seu pai, naquela que era talvez a única propriedade da sua família para falar da universalidade do ministério cristão.

Para aqueles que esperavam que o final desta meditação lhes trouxesse uma resposta sobre o tempo que ainda temos que esperar pela plenitude do Reino Deus, peço meu perdão pelo desapontamento. A minha questão atual é saber quanto tempo ainda vou esperar para fazer o que Deus quer que eu faça.

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