Quanto tempo esperaremos ainda? II

Espírito Santo,Conrado Guiaquinto(1703-1765)
Eles precisavam de tempo também para deixar que a fraternidade se consolidasse entre eles. Embora este termo esteja enfraquecido pelo mau uso em várias situações, ainda é o que pode expressar melhor o sentimento de união que deveria haver entre os discípulos. Aqueles judeus, que deram início à obra que hoje chamamos de igreja, precisavam de tempo para firmar a comunhão. Eles já eram conscientes da união que deveria existir entre o povo de Deus, não precisavam desenvolver este aspecto. Nesta nova experiência, eles tinham que viver como Cristo viveu entre eles, acolhendo a fraqueza do fraco, perdoando setenta vezes sete vezes, amando o inimigo e se colocando ao lado do pobre e do perseguido. Precisavam desenvolver laços de confiança irrestrita e de atenção, que seriam a base de todo relacionamento entre eles.

Quase toda religião é marcada por três elementos: o culto, o ensino e o estilo de vida. Isto é o que todo seguidor de um credo deve mostrar aos que não creem do seu modo. A fraternidade está relacionada ao terceiro elemento, o estilo de vida. Sempre existiram e existirão aqueles que vão atrás de qualquer novidade que aparece travestida de evangelho. Quando se fala em novidade religiosa parece que o Brasil se destaca como o maior dentre todos os países. Para um examinador criterioso parece que temos mais variedade de religiões que e Índia e a China juntas. A maioria dos cristãos faz isso porque é incapaz de discernir o ensino teológico e o culto cristãos. Cada um se acha no direito de fazer a seu modo. Por que, então, vamos atrás daquilo que nem entendemos? Por causa o estilo de vida, é claro. A maioria vai atraída pela fraternidade oferecida pelo grupo.

Outra coisa que detesto tanto quanto esperar é quando alguém tenta me convencer que o seu evangelho é o correto. Detesto também o ensino dos colecionadores de curiosidades bíblicas, principalmente quando se aclamam profundos conhecedores dela. Até hoje não consegui decorar a ordem dos livros da Bíblia, nem do Segundo Testamento, que é menor. Durante muito tempo eu me senti diminuído, porque todo mundo sabia esta ordem até de trás pra frente. Para orar, então, eu era um desastre. Diante tudo isso, nada me restava, senão me sentir fora, descrente e não cristão. Mas eu comecei a entender um pouco do que era evangelho a partir desta frase de John Wesley: O mundo é a minha paróquia. Ou seja, absolutamente ninguém está fora, nem que queira. Basta apenas estar no mundo para fazer parte dela. Pelo menos uma coisa eu aprecio neste pessoal que tenta converter os outros na marra, eles realmente incomodam quando tentam nos apresentar as suas convicções.

A fraternidade não é resultado de almoços e festas na igreja. Não é resultado de cafezinho após o culto. Não é resultado do futebol ou de fazer parte do grupo de louvor. Ela é resultado do amor que é cultivado entre os membros. E foi para aprofundar esta união entre os discípulos, as mulheres que acompanhavam Jesus, e até mesmo sua mãe, Maria, que eles receberam a ordem de esperar em Jerusalém. Eles, que estavam se sentindo individualmente inúteis, impotentes e abandonados, tiveram que esperar até que a sua fraternidade fosse fortalecida. A maior descoberta na valorização do deficiente foi integrá-lo à sociedade. O elemento principal que faltava para a auto aceitação destas pessoas eram as outras pessoas. Somente uma congregação, uma família ou um grupo podem ajudar a uma pessoa indecisa e perdida encontrar a sua própria identidade. A nossa responsabilidade como congregação cristã é receber e aceitar os outros como eles são, e talvez esteja aí a nossa maior obrigação. (continua)

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