O falso profeta

Karl Barth, 1886-1968
Texto de Karl Barth, teólogo alemão reformado, falecido em 1868, criador da Teologia Dialética. Foi, sem dúvida um dos maiores teólogos do século XX, autor de vinte e seis livros, dentre eles um espetacular comentário da Carta aos Romanos. 
Disse ele: O falso profeta é o pastor que agrada a todo mundo. Seu dever é dar testemunho de Deus, mas ele não vê a Deus e prefere não o ver porque vê muitas outras coisasSegue seus pensamentos humanos, conserva-se interiormente calmo e seguro, evita habilmente tudo quanto o incomoda. Não espera senão poucas coisas ou mesmo nada da parte de Deus. Pode calar-se, mesmo quando vê homens atravancando seus caminhos de pensamentos, de opiniões, de cálculos de sonhos falsos, porque eles querem viver sem Deus.

Retira-se sempre quando devia avançar. Compraz-se em ser chamado de pregador do evangelho, condutor espiritual e servidor de Deus, mas só serve aos homens. Sonha às vezes que fala em nome de Deus, mas não fala a não ser em nome da igreja, da opinião pública, das pessoas respeitáveis e da sua pequena pessoa.

Ele sabe que, desde agora e para sempre, os caminhos que não começam em Deus não são caminhos verdadeiros, mas não quer incomodar nem a si mesmo, nem aos outros; por isso é que pensa e diz: “Continuemos prudentemente e sempre alegres em nosso caminho atual; as coisas se arranjarão”. Ele sabe que Deus quer tirar os homens da impiedade e que a luta espiritual deve ser travada. No entanto, prega a “paz”, a paz entre Deus e o mundo perdido que está em nós e fora de nós. Como se tal paz existisse!

Sabe que seu dever consiste em proclamar que Deus quis uma nova vontade, uma nova vida; mas não, ele deixa reinar o espírito do medo do engano, do dinheiro, da violência – a muralha construída pelo povo: Visto que andam enganando, sim, enganando o meu povo, dizendo: Paz, quando não há paz, e quando se edifica uma parede, e os profetas a caiam, dize aos que a caiam que ela ruirá. Haverá chuva de inundar. Vós, ó pedras de saraivada, caireis, e tu, vento tempestuoso, irromperás. (Ez 13.10s), o muro oscilante e manchado. Ele o disfarça pintando de cores suaves e consoladoras da religião para o contentamento de todo o mundo.

Eis aí o falso profeta!


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