A família de Jairo III

Ressurreição da filha de Jairo, Iluminura de 980
Leia Marcos 56.21-24 e 35-43
Ainda temos na cena o grupo das carpideiras profissionais. Não faz muito tempo que o serviço deste profissional deixou de ser utilizado, mas era muito comum no tempo de Jesus. Era um grupo de pessoas que recebiam dinheiro para prantear defuntos alheios.
Gente que lucrava com a morte e que estipulavam seu preço de acordo com grau da fatalidade. A profissão pode ter sido extinta, mas a prática não. Temos sempre ao nosso lado e em todas as circunstâncias não muito positivas lamentadores de plantão. O que mais se encontra hoje em dia é gente lamentando. A lamúria é tão natural que já se lamenta por situações que ainda nem aconteceram e por projetos que ainda nem foram executados.

Os lamentadores deste texto são assim. Eles estavam tão preocupados em demonstrar a eficiência da sua tristeza que nem repararam que a alegria havia chegado. Quando Jesus disse que a menina estava apenas dormindo, o lamento deles imediatamente se transformou em zombaria. O que era um tumultuado pranto, de repente virou gargalhada orquestrada. O riso desdenhoso deles manifestou o seu desconhecimento total do teor da tragédia e a sua falta de fé naquele que fazia questão absoluta de negar a morte. Afinal, eles eram os profissionais e conheciam bem os sinais da morte. Desse assunto eles sabiam mais do que Jesus, eles tinham certeza de que a menina estava morta.

Jesus aproveita este quadro para nos dizer duas coisas de capital importância: a primeira é que a morte não é trágica, ela é como o sono. A segunda é que quando é do plano de Deus, até a morte é reversível. Jesus sugeriu que a menina estava em um estado de morte aparente. No grego existem duas palavras para definir o sono. Uma falava do sono natural no qual permanecemos todas as noites. A outra fala do sono definitivo da morte. Mas Jesus falou do sono natural, falou que ela estava apenas dormindo como todo mundo dorme. A perspectiva faz toda a diferença. Jesus deu àquela morte comprovada pelos profissionais o significado de um sono, um sono do qual o poder de Deus podia fazê-la acordar.

Aqui encontramos um outro tipo de fé: o favorecimento da fé que vem através da influência da fé de outros. Jesus pegou-a pela mão e disse: menina, levanta-te. As palavras implicam num diálogo tão terno como se Jesus estivesse se dirigindo à sua própria filha. Aqui está uma categoria de fé que é muito pouco esclarecida. Ela recebeu a cura por meio da graça de Deus, está certo. Mas não recebeu a graça de Deus pelas suas orações e sim pelas orações dos outros. Ela foi curada pela fé dos outros. Então, estejamos certos de que somos alcançados pela esperança, pelo amor e pela misericórdia de Deus também pela oração de outras pessoas. Nenhum de nós pode ter chegado ao estagio de fé em que nos encontramos sem o fato de que alguém orou insistentemente por nós. Quem consegue viver sem as orações dos outros? Já pensaram o que seria de nós se a oração não fosse a principal tarefa da igreja de Cristo?

Por último temos a fé de Jesus. A fé como ela deve ser vivida: O modelo supremo de fé autêntica. Jamais apressada, nunca tardia demais, sempre disponível para os outros e sempre aberta ao poder de Deus. Por mais que estejamos com Cristo, por mais que escutemos o que ele falou, por mais que ousemos fazer o que ele fez, por mais que estejamos influenciados pela sua viva, tanto mais da sua fé deveríamos ter dentro de nós. A fé é o maior dom de Deus, porque é por meio dela que nos apropriamos de tudo que ele tem a nos oferecer em Jesus Cristo. O maior dom, a nova vida, o poder sobre a morte, a dinâmica da oração, a capacidade de amar os outros como amamos a nós mesmos. Tudo isso vem mediante o dom da fé. Jesus disse a Jairo, não tenha medo, tenha fé. É justamente nesta hora decisiva que precisamos mostrar ao mundo, ainda que seja com uma fé simples, o amor de Deus revelado em Jesus Cristo.

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