A família de Jairo II

Ressurreição da filha de Jairo, Ilya Repin (1844-1930)
Leia Marcos 5.21-24 e 35-43
No texto há também um exemplo do sentimento que a fé provoca em quem tem dificuldade de crer. Vamos ver como criam os empregados da casa de Jairo. Eles eram o tipo de pessoa que está limitada a crer somente naquilo que pode ver. A possibilidade de uma intervenção de Deus simplesmente não existe para eles. Dá para perceber claramente como essa influência negativa distorcia a fé dos outros: Jesus ainda estava falando, quando chegaram alguns empregados da casa de Jairo e disseram: — Seu Jairo, a menina já morreu. Não aborreça mais o Mestre. (Mc 5.35) É fato, está provado, então não há mais nada a fazer. Imaginem o efeito que isso teve em Jairo. Ele ficou transtornado, ele se sentiu esmagado, também, com amigos assim quem precisa de inimigos? Quem não ficaria arrasado?


Neste caso, Jairo deveria ter reformulado o pedido que fizera a Jesus. Deveria ter pedido a Jesus que devolvesse a sua filhinha à vida, mas com a falta de fé dos seus empregados esta esperança também foi sufocada, e por isso não se manifestou desta forma.

Neste mesmo instante Jesus viu que era preciso resgatar a fé daquela família a despeito no negativismo e da incredulidade dos que lhes eram próximos, e isso ele fez. Muitas vezes nos encontramos no estado de Jairo, principalmente pelo fato de não termos uma visão distinta do quanto Cristo pode fazer. Nós chamamos isso de realismo, porque sabemos como as coisas nesse mundo acontecem. Mas isso é falta de fé mesmo, porque os nossos cálculos são feitos a partir de observações meramente humanas. Nós entregamos os pontos, como dizia meu pai, cedo demais. Somos realmente limitados. Não existem janelas pelas quais podemos avistar as possibilidades imensas da ação de Deus. Felizmente, esses nossos cálculos e previsões não tem a palavra final. Para o momento atual de causa e efeito que o mundo, e até mesmo algumas igrejas vivem, existe uma outra resposta que se fundamenta na fé. Uma resposta que evita que nos atolemos, e que atolemos também os outros nessa sina de causa e efeito. Exatamente o que os empregados de Jairo fizeram.

Jesus não deu qualquer importância a fatalística notícia. Ele desconsiderou qualquer tentativa de falta de fé. Ele atropelou todos os esforços que a realidade estava impondo sobre a vida daquela família: Mas Jesus não se importou com a notícia e disse a Jairo: — Não tenha medo; tenha fé!

Também havia um tipo de fé próprio do círculo íntimo de discípulos com quem Jesus podia efetivamente contar: eram eles Pedro, Tiago e João. Por que somente esses três? Porque as manifestações de Deus não tem por finalidade calar a boca dos incrédulos, e sim fortalecer a fé dos que creem: simplesmente isso. Na igrejas não somos meros receptores de uma mensagem divina que vem para o nosso próprio deleite. O que fazemos no culto conta decisivamente sobre o que acontece na vida dos outros. Muito do que acontece no mundo depende da nossa influência. Quando existe expectativa entre nós, quando somos tomados pela surpresa da fé, quando existe entre nós a vontade de repartir o amor de Deus com os outros, Deus pode agir livremente nas outras pessoas. Depende de nós.

Quantas vezes, por causa da nossa incredulidade, limitamos a ação de Deus? Nossas emoções, as nossas fossas, os momentos em que estamos deprimidos geram incredulidade, e é deste jeito que limitamos a ação de Deus. Certa vez um pastor definiu a igreja como sendo “Um Conglomerado de Solitários com Opinião”. É isso mesmo. Nós somos um organismo anacrônico na sociedade atual pelo simples fato de não deixarmos Deus agir livremente, e com isso retardamos e até impedimos que o mundo creia. Almejamos pouco e conseguimos pouco. Acostumamos-nos a fazer coisas sem o consentimento de Deus, e quando algumas por milagre dão certo, ainda temos a ousadia de agradecê-lo pela direção do seu Espírito, como se elas acontecessem em virtude dos nossos esforços.

Resta apenas uma pergunta que cada um deve sinceramente fazer a si mesmo: Na minha situação atual, faria eu parte daquele pequeno grupo que Jesus selecionou para acompanhá-lo neste empreendimento da fé que muitos imaginavam ser impossível? (continua)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...