Deus não faz nada pela metade

Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades; quem sara todas as tuas enfermidades; quem da cova redime a tua vida e te coroa de graça e misericórdia; quem farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia. Salmo 103
A cura de um cego, El Greco em 1567
Texto do livro Salmos para o Espírito do rev. Jonas Rezende.
 Os poetas escreveram poemas de qualidade diferente. Alguns são mais belos e expressam com mais felicidade o pensamento de quem os concebeu. Outras poesias parecem desperdiçar a ideia original, com um tratamento sem maior inspiração. Os salmos não são exceções. Todos são importantes e cumprem um papel na vida do poeta e da comunidade, mas há alguns que nascem perfeitos no conteúdo e na forma, como o que agora partilhamos. Confira você mesmo. Embora seja uma tradução, o poema nos passa música, ritmo e beleza. E, sobre tudo, transmite a mensagem que atinge nossa vida com palavra contemporânea. Eterna. Palavra que Deus também faz dele e nossa.

Davi vive neste salmo mais um momento de mergulho dentro de si mesmo. Faz esse balanço necessário de vida comum às pessoas sensíveis e conscientes. É como se falasse diante de um espelho que não captasse apenas traços exteriores, mas vasculhasse também as suas memórias mais profundas. O rei se dirige a si mesmo, movido pelo reconhecimento e gratidão: Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome.

O salmo mantém o tom intimista e, ao mesmo tempo, de público testemunho. É uma avaliação pessoal que bem pode se transformar, como se transformou, em um hino comunitário. Como se o rei falasse em nome de todo o seu povo. Como se um único homem interpretasse o sentimento de todos os seres humanos.

Para mim, o ponto mais sensível do salmo encontra-se no texto que abre esta página.

O rei nos mostra que Deus não faz as coisas ela metade nem para no meio do caminho. Ele perdoa as nossas iniquidades e cura as nossas enfermidades. Todas. Veja só com a hierarquia é perfeita. Primeiro, o perdão. Depois, a cura. O salmo responde até mesmo à moderna concepção de doenças que são a somatização dos nossos problemas psicológicos, porque são frutos de um monstruoso sentimento de culpa.

Fica, como você percebe, um problema: e as enfermidades tidas como incuráveis? Segundo alguns teólogos, todos os males desaparecerão do corpo de quem ressurge para uma vida perfeita. E aqui penetramos no universo da esperança.

Conta-se que um grupo de cristãos, oprimidos e discriminados, cantava mais com o coração do que com os lábios, nos seus rápidos encontros clandestinos, este salmo que nasceu deles, do seu sofrimento:

A alma e o corpo feridos
me aproximo do Senhor
que houve meus tristes gemidos
e sara toda essa dor...

A plena libertação de Deus é para todos. Experimente.


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