O que é HUMILDADE? II

O caminho da cruz, Domenico Zampieri (1581-1641)
O Segundo Testamento vem anunciar que Jesus é o Messias humilde, mas que é também o Messias dos humildes, aos quais anuncia as boas notícias e sobre quem lança as bem aventuranças. Como modelo de humildade e confiança Jesus apresenta uma criança para, a partir dela, descrever o praüs, aquela pessoa que é totalmente submissa e dependente de Deus. Jesus não somente qualifica as crianças para o Reino de seu Pai, como diz que o Reino é delas e de quem se tornar como elas. Para tornar-se como uma criança é preciso entrar na escola de Jesus, o Mestre por excelência: Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. (Mt 11.29)

O Mestre não é simplesmente um homem que passa bons ensinamentos. É o Deus encarnado que veio redimir os pecadores assumindo a sua forma e semelhança. Não veio procurar a sua própria glória, mas se humilhar a ponto de lavar os pés daqueles que o traíram e o abandonaram. Jesus abre mão de todos os seus atributos divinos para morrer a infamante morte de cruz pela nossa redenção. Paulo na Carta aos Filipenses entoa um hino que era bem conhecido da comunidade e que retrata fielmente o processo da salvação levado a cabo por Jesus: Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. (Fp 2.6ss)

Em Jesus se revela não somente o poder divino sem o qual não teríamos sido criados, mas o amor divino sem o qual estaríamos perdidos. Santo Agostinho dizia que a humildade é o sinal de Cristo que deve ser seguido, pois somente no caminho da humildade o amor subsiste. Onde está a humildade aí está amor, dizia o grande teólogo. Os que se revestem de humildade em suas relações mútuas buscam antes o interesse dos outros, deixando os próprios em último lugar: Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. (Fp 2.4)

Na série Fruto do Espírito de Gálatas 5,22, Paulo coloca a humildade ao lado da fé, que, segundo Sabedoria 45.4, são as duas características fundamentais de Moisés e do Servo Sofredor. Elas estão de fatos ligadas, sendo ambas atitudes de abertura para Deus, de submissão confiante na sua graça e de fidelidade à sua Palavra.

Deus olha os humildes e a eles se inclina, pois eles não se gloriam senão da própria fraqueza e se abrem para que a graça aja plena e eficazmente neles. O humilde não alcança unicamente o perdão dos pecados, mas é nele que se revela a sabedoria do Deus Onipotente, a sabedoria que o mundo despreza. A humildade e o despojamento daquele que veio preparar o seu caminho; a humildade e submissão da virgem que lhe serviu de mãe; a humildade e realização das promessas nos idosos que o reconheceram no templo; a humildade e solidão dos pastores na noite escura, são a marca da chegada daquele a quem, pela entrega humilde de si, Deus o fez Senhor e Cristo.

Aquele que comunga as humilhações de Cristo e que se coloca ao lado e em favor dos humildes de Deus, será exaltado e participará da glória do Filho de Deus. Com todos os humildes ele há de cantar eternamente a Santidade e o amor do Deus que neles fez grandes coisas: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas. (Ap 4.11)


No Primeiro Testamento a Palavra de Deus conduz o homem à glória pelo caminho da humilde submissão a Deus, seu criador e mantenedor. No Segundo Testamento esta palavra se fez carne para levar o homem à perfeita humildade, que consiste em servir a Deus através do serviço às pessoas, em se humilhar por amor para glorificar a Deus, que continua até agora o seu trabalho de salvar os homens.

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