Quando falar de amor é mentira

Amo o SENHOR, porque ele ouve a minha voz e as minhas súplicas. Porque inclinou para mim os seus ouvidos, invocá-lo-ei enquanto eu viver. Salmo 116
 Detalhe da capa do livro Lobo na pele de cordeiro de Monika Shüler
Texto do livro Salmos para o Espírito do rev. Jonas Rezende.
Volto novamente a este belo salmo que só fala de amor, como se o salmista se esquecesse de vingança, se libertasse de ódios e imprecações e se concentrasse em uma única preocupação expressa com beleza em seu poema: que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo? Deus aceitou certamente o seu oferecimento: tomarei i cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. Cumprirei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o seu povo.


Deus certamente aceitou a oferta do salmista. Mas o amor que oferecemos a Deus não ricocheteia em seu coração. Pelo contrário. O desdobramento natural do nosso amor ao Pai é a sua destinação também ao outro. João, conhecido como o apóstolo do amor, fala com maior clareza: se alguém disser que ama a Deus e odiar o seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.

Veja bem. Há uma situação em que falar de amor a Deus é mentira. Justamente quando o próximo não ocupa o nosso horizonte afetivo. Esta é a razão por que lhe digo, o que também me digo com frequência:

Ame. Ame a todo preço. Ame, ainda aos que sem preço. Ame.
Ame para dialogar, na linguagem eloquente, sem palavras, com os céus que proclamam, aos que amam, a glória de Deus.

É o que vislumbra o rei e poeta Davi, em um de seus mais belos salmos.

Ame e se faça confidente do próprio mundo, no estilo do velho Bilac:

pois só quem ama pode ter ouvido
capaz de ouvir e entender estrelas...

Ame para acreditar que os desertos florescerão. Que todas as tragédias terão fim. Que o coração humano tem uma inalienável juventude. Que não é ridículo ser ingênuo como São Francisco de Assis, ou sonhar como dom Quixote. Porque é preciso acreditar que os homens-sub-homens se humanizarão novamente no amor. E se farão, no amor, novamente irmãos da paz.

Ame e veja, pela fé que o vincula a Fonte da vida, a estrutura da cruz no Universo.

Ame e reconheça nos olhos do viajante cansado, no sorriso-esperança da criança, nos gestos do amigo e do inimigo, na imagem luz-e-sombra do homem da terra, o vulto do Cristo.

Ame, pelo Deis do seu amor, ame ainda que não seja amado. E, ainda que odiado seja um pródigo do amor e ame imensa e intensamente. E faça gente os vultos deformados. E vença ao as forças que o venceram e deformaram. E, pelo amor, seja sempre gente.

Aí está o meu apelo de amo. E a certeza que levou São João a compreender:


O verdadeiro amor lança fora o medo.

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