Vinho novo II

Vinho novo, Adolf Humborg (1847-1921)
Jesus disse aos seus discípulos para não ter ilusões quanto ao povo gostar do novo. Ele sabia o quanto o novo perturbador demais, o quanto é pouco confortável. Por mais que as novas teologias nos pareçam estranhas e anticristãs, não podemos fechar a nossa mente para não compreendê-las. Por mais que as mudanças se apresentem terríveis para nós, não podemos ser pegos lutando contra o novo de Deus.

O Evangelho para ser útil em nossos dias precisa mudar muita coisa. Nós não podemos ler esta parábola e dizer que se os fariseus eram desse jeito, pior para eles, porque, por natureza, nós somos os fariseus modernos que precisam desta parábola hoje tanto quanto eles naquela época.

Nós temos aqui a palavra do Mestre que haverá resistência, que nunca será fácil, nem confortável e que devemos ser realistas quanto à natureza humana. Nossa fé em Deus tem que nos ajudar a receber com alegria as mudanças. Por isso, eu gostaria de apresentar dois fatos que podem nos ajudar a entender e aceitar as mudanças.

Em primeiro lugar temos que reconhecer que é da natureza humana esse apego desmedido pelo velho. Quando enfrentamos a mudança somos preguiçosos demais para conferir onde ela nos levará. Como é fácil se habituar ao velho esquecendo-se que Deus está sempre nos chamando para sermos peregrinos. Abraão saiu de sua terra sem sequer saber onde ia. Paulo chegava a uma cidade sem conhecer as pessoas, seus costumes e sem ter onde ficar. Ambos fizeram isso em nome daquele que os chamou para a aventura do novo.

O segundo passo é muito mais difícil. Não é somente como humanos que nos apegamos ao velho, mas como igreja de Jesus Cristo também, e há inúmeros motivos para isso. A igreja por natureza é cautelosa e conservadora. Por isso nós temos que ter cuidado. Se não tivermos muito cuidado a própria igreja se tornará um obstáculo ao novo, assim como eram os fariseus nos dias de Jesus. Isso é compreensível. Faz parte da missão da igreja preservar a segurança da sociedade e manter a continuidade da fé. Com sabedoria o rev. Bill Garison dizia: a igreja é o único lugar nesse mundo onde a eternidade fala ao momento. A igreja é o único lugar onde o infinito de Deus se encontra com o finito nosso.

Não acontece só no Brasil, mas se quisermos conhecer a história distante de um país europeu ou mesmo da nossa família, temos que recorrer às igrejas. Sem a igreja de Jesus Cristo a história da Europa simplesmente não existiria. Acham que os romanos ou os mouros deixaram muita coisa? Mesmo o pouco que deixaram quem guardou foi a igreja, e guardou bem. Por mais que sejamos devotos do protestantismo e adeptos do anticatolicismo, não podemos jamais negar a importância do Vaticano. É sem hesitação o maior e mais importante museu do mundo. Onde estão as melhores obras dos melhores artistas. Tudo está meticulosamente preservado com o que há melhor da tecnologia atual para as futuras gerações. Isso é o que fazemos na igreja. Estamos aqui para lembrar o mundo que existe um amor eterno que não nos abandona. Fazemos isso por meio do culto, por meio dos hinos, por meio da ceia, da pregação da Palavra e por meio da oração. É um ministério de continuidade, é um ministério absolutamente necessário. Nós vamos à igreja por causa disso. O novo não tem vez nesses aspectos.

O segundo motivo da igreja estar sempre ao lado do velho é que ela depende do sistema. Temos um orçamento a cumprir, obrigações legais, despesas com pessoal, um prédio para manter. É lógico se esperar que a renda da igreja venha justamente daqueles que estão satisfeitos com a situação tal qual ela se apresenta. Daqueles que estão satisfeitos com o sistema do jeito que ele é. E nós não podemos simplesmente esperar sustentar a igreja com a oferta dos que não tem nada. Nós os pastores temos aprendido ao longo dos anos a abaixar a nossa voz para aumentarmos o nosso orçamento. (continua)

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