Suzana, a mãe de João Wesley

Suzana Annesley Wesley (1669-1742)
Trecho do livro Mulher, grande é a tua fé escrito por João Wesley Dornellas em 2006. 
A mãe de João Wesley teve uma importância grande em sua vida. Casou-se, com 20 anos, com Samuel Wesley, em 1689, no mesmo ano em que ele foi ordenado ministro da Igreja Anglicana. Seu pai, o Dr. Samuel Annesley, era um dos mais importantes líderes do grupo não conformista. Apesar de toda a herança não conformista, Samuel Wesley e Susanna optaram pela igreja oficial. Depois de servir em Londres por um ano e de ter sido,
também durante um ano, capelão a bordo de um navio, Samuel recebeu a paróquia de Epworth, no condado de Lincolshire, na qual ficou até morrer.

Susanna teve dezenove filhos mas a maioria deles morreu ao nascer ou logo depois. Quando João nasceu, o segundo menino, seus irmãos vivos eram Samuel e as meninas Emília, Susana, Mary e Mehetabel. Era hábito de Susana, no dia em que os filhos completavam cinco anos, ensinar-lhes o alfabeto e, em seguida, utilizando a Bíblia, a ler. Um dos acontecimentos que, sem dúvida, marcaram a vida de João Wesley e sua grande ligação com a mãe, foi o incêndio da casa pastoral, que ocorreu no dia 9 de fevereiro de 1709, quando Wesley ainda não tinha seis anos. O fato é que alguns paroquianos, insatisfeitos com o pastor, colocaram fogo no prédio enquanto a família dormia. Quando todos já se encontravam fora da casa, notou-se a falta do pequeno Jack – era assim que família lhe chamava – que dormia no segundo andar. Tentaram resgatá-lo, mas era impossível pois a escada de madeira já estava em chamas. Samuel pediu aos que estavam ali para ajoelhar-se e pedir a Deus para que recebesse em seu seio a alma de seu filho. De repente, ouvem o choro do menino que, subindo numa cômoda, chegava à janela do seu quarto. Fizeram então uma escada humana, um homem nos ombros de um outro, e salvaram o menino. Logo em seguida, o teto caiu em chamas para dentro de casa.

Esse episódio deu a Susana, que via no salvamento do filho algum objetivo de Deus em relação a ele, uma preocupação maior com a educação de João Wesley. Em oração que escreveu logo depois do incêndio, ela dizia: “pretendo ser particularmente cuidadosa, como nunca antes, com a alma desta criança, que tu tens cuidado tão misericordiosamente, para que eu possa inculcar em sua mente os princípios da verdadeira religião e virtude”. Além dos seus afazeres como mãe de tantos filhos, ela tinha uma preocupação muito grande com a Igreja. Pregava muito bem, o que aborrecia seu marido. Chegava a reunir na sua casa mais de 200 mulheres. Samuel ordenou-lhe que parasse e ela exigiu uma ordem formal, para que a responsabilidade perante Deus caísse sobre a cabeça dele e não dela. Ela continuou pregando.

Quando João Wesley se formou, ainda não tinha definido que profissão escolher. A sua posição de lente lhe permitia escolher entre as mais importantes da época, o Direito, a Medicina ou a Igreja. A Igreja foi para ele inevitável e ele foi ordenado diácono no dia 19 de setembro de 1725. Pregou o seu primeiro sermão em South Leigh, pequena vila na vizinhança de Whitney.Em 1726, foi nomeado professor de grego e presidente das classes. Grande parte desse ano ele passou em Epworth ajudando seu pai na Igreja. Era sonho de Samuel transmitir-lhe por “herança” a sua pequena paróquia. Wesley, contudo, volta a Oxford, onde recebeu o grau de Mestre em artes em 1727.

Ao tomar sua decisão pelo ministério pastoral, Susanna lhe aconselhou: “o verdadeiro fim da pregação é endireitar a vida dos homens e não entulhar as suas cabeças com especulação inútil”. Em agosto de 1727, volta a Epworth, onde passa dois anos ajudando seu pai. Anos depois, em avaliação do seu trabalho naquele período, ele dizia com sinceridade : “preguei muito, mas vi pouco fruto do meu trabalho. Nem podia ser de outra forma, pois eu nem firmava as bases do arrependimento nem a fé no Evangelho, julgando que aqueles a quem eu pregava fossem todos crentes, e que muitos deles não necessitassem de arrependimento”.

Iniciado o movimento metodista, logo depois da morte de Samuel, Suzana foi uma grande colaboradora de seus filhos João e Carlos. De uma certa forma, ela foi responsável por uma das grandes novidades do metodismo, responsável por seu grande crescimento,ou seja, a pregação dos leigos. Pregação era coisa de ministros ordenados e não de leigos. Wesley também pensava assim. No princípio, só os pastores ordenados é que participavam das atividades da pregação. O problema é que o número de sociedades e de fiéis crescia mais do que o de pastores ordenados pela Igreja da Inglaterra. Comoo Movimento Metodista não era uma igreja legalmente constituída, só eram utilizados os pastores daquela igreja que tivessem aderido a ele. Não eram muitos. Além de sua mãe Susanna, que ensinava e pregava,apareceu, logo no início, um jovem que pregava muito bem. Seu nome era Thomas Maxfield, hedreiro de profissão. Wesley havia feito uma longa viagem. Quando soube que havia um homem sem ordenação eclesiástica pregando na Fundição, ele mudou seus planos e, de Bristol, voltou incontinente para Londres para pôr fim a tal desordem. Quem evitou o atrito foi Susanna, mãe de Wesley, que lhe deu um sábio conselho: “Tem cuidado, João, com o que vai fazer daquele jovem, pois ele é certamente tão chamado para pregar como tu. Examina quais os frutos de sua pregação e, então, ouve-o tu mesmo”. Aceitando o conselho, ouviu Maxfield e afirmou: “É do Senhor, faça Ele como lhe aprouver” A partir daí, os leigos foram admitidos nas sociedades como pregadores. Cinco anos depois, ou seja, em 1744, já eram mais de quarenta os pregadores leigos que Wesley usava. Enquanto ele e Carlos viajavam de um lado para outro da Inglaterra, os pregadores leigos cuidavam das sociedades e pregavam a Palavra.

O amor que Wesley dedicava a sua mãe era muito grande. Muitas vezes ele disse que gostaria de morrer antes dela, para não ter o sofrimento de perdê-la. Suzana faleceu com 73 anos no ano de 1742, logo no princípio do Movimento Metodista. Mesmo assim, com seu exemplo e dedicação, ela é considerada uma das mulheres mais importantes do Metodismo. Vale a pena conhecer a sua história e as suas realizações.

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