A importância do Reino para Jesus II

Também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. Apocalipse 14.10
A adoração do Cordeiro, irmãos Hubert e Jan van Eyck em 1432
Se Jesus estava se referindo à vindicação final dos propósitos de Deus no Reino de justiça e de paz, onde os justos se sentarão no banquete ao lado de Abraão, Isaac e Jacó, é insensato sugerir que o Reino estava presente na terra quando Caifás era o Sumo Sacerdote e Pilatos governador da Judeia. Por outro lado, se Jesus estava se referindo à soberania redentora de Deus no mundo para a destruição de todas as obras presentes do mal, como sugere Mateus 12,28: Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós, é um disparate discutir que o exercício desse ministério, para ele, ainda faria parte de um projeto futuro.


Jesus redefiniu o significado de Reino para seus contemporâneos judeus. Enquanto eles aguardavam um líder militar que estabeleceria um Reino político neste mundo, segundo o modelo antigo do reino de David, o próprio Jesus tinha um modelo muito diferente de Reino em mente. A parábola do grão de mostarda é um belo exemplo da sua redefinição de Reino: Ele não vai aparecer de uma só vez em todo o seu esplendor, mas vai começar discretamente. Aqueles que esperavam Jesus para liderá-los em uma marcha sobre as guarnições romanas iriam se decepcionar muito. No entanto, no modelo que ele está oferecendo, mesmo redefinido, permanece inalterado o sonho de liberdade. O ministério de Jesus, embora em nada se pareça com o Reino esperado, é, na verdade, o seu princípio. Estranho e inusitado, é fato, mas o único viável. 

Para Jesus, grandeza é definida em termos de serviço, onde o primeiro é o último e onde o maior é o servo de todos. Em outra ocasião, quando os discípulos discutiam sobre qual deles era o maior, ele colocou uma criança no meio deles e declarou: Esta criança é o que existe de maior no Reino de Deus. Se vocês quiserem tornarem-se grandes no Reino, tornem-se crianças. Estas não parecem ser as formas típicas do pensamento que atualmente dirige a Igreja.

O Reino também encarna um perdão radical e inesperado. Aqueles a quem ninguém espera que estejam no Reino de Deus, são exatamente aqueles que são mais bem-vindos. Temos como exemplo as parábolas do filho pródigo e a do fariseu e do publicano, e as diversas situações vividas com coletores de impostos, prostitutas e pecadores.

As parábolas eram a forma mais característica do ensino de Jesus sobre o Reino de Deus. Por definição, uma parábola é uma metáfora ou analogia tirada da vida comum, que prende o ouvinte pela sua vivacidade ou estranheza, mas deixando na mente uma dúvida suficiente sobre a sua aplicação, para aguçar o seu pensamento, dizia C. H. Dodd. A parábola força o ouvinte a participar na construção do seu significado. Este processo pode subverter o mundo do ouvinte, pois ela pode vir a ser uma abertura para uma nova visão da realidade. Parábolas assim começam no mundo familiar do ouvinte, mas, em seguida, apresentam-lhe uma visão diferente deste seu mundo, desafiando as expectativas cotidianas do ouvinte.

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