Os pães da criança II

Multiplicação de pães e peixes, Hildebrando Lima (1946-)
Leiam João 6,1-13
Essa mãe ou esse pai, não sabemos ao certo, cuidou muito bem para seu filho, ou filha, estivesse preparado para ir atrás das oportunidades que se apresentassem. Esse cuidado o manteve pronto para perseguir e alcançar o seu objetivo, que era de estar com Jesus. Ele teve uma criação esmerada e
apropriada, para que, mesmo na tenra idade, fosse fisicamente capaz de acompanhar aqueles que queriam estar com Jesus.

Outra coisa evidente é que em nenhum momentoand a narrativa dá a entender que essa criança acompanhava Jesus com o intuito de pedir algo, ou mesmo para agradecer uma bênção alcançada. Dá a entender que ele queria estar com Jesus por estar, sem pedir, sem reivindicar, sem negociar nada. Empreendeu uma dura caminhada apenas e tão somente para estar com Jesus. Não seria nada estranho se André viesse a Jesus com o seguinte recado: Olha Jesus, tem uma criança aí que está com a mãe doente, o pai desempregado e a irmã paralítica, mas ela tem cinco pães de dois peixes. Por favor, não me condenem por levantar essa hipótese, isso é mais do que comum hoje em dia. Alguém que chega com um pacote para ofertar à igreja e logo atrás vem um caminhão lotado de pedidos e reivindicações. Podem perguntar isso a qualquer pastor ou padre. As igrejas estão cheias de gente assim, mas essa criança era diferente.

Eu fico aqui pensando na pergunta que Satanás fez a Deus no livro de Jó: Será que Jó te ama mesmo, de graça? Por nada? Debalde? Eu tenho um amigo pastor assembleiano que quando faz alusão a esse texto ele diz sempre: Amar a Deus de balde duvido que exista alguém que ame, mas de canequinha talvez. A pergunta de Satanás é oportuníssima. Será que existe alguém hoje, nesse mundo de Deus, que como essa criança, empreenda esse enorme esforço simplesmente para estar com Jesus, apenas por estar? Será que ainda existe alguém que venha à igreja sem reivindicar nada, sem querer barganhar nada, sem pedir nada, apenas para estar na presença de Deus? Eu não sei quem foi que disse isso, mas sabiamente o disse: O homem comum não ora, só pede.

Diante de tanto “meu Deus eu declaro”, “meu Deus eu determino”, “meu Deus eu exijo”, João nos coloca o desafio dessa criança que aprendeu a confiar, e por isso quer somente estar na presença de Jesus, se aquietar, e descansar nela. Porque ele vê em Jesus uma presença que se mostra tão acolhedora, tão amável e tão transformadora que nem pensa em pedir mais nada, pelo contrário, entrega a Jesus tudo que possui como se tivesse dizendo: O Senhor é o meu pastor, e nada me faltará. Numa tradução mais literal: O Senhor é o meu pastor, e eu não preciso de mais nada. Aliás, nos verdadeiros encontros com Deus ninguém vai pedir nada, pelo contrário, ele é quem vai nos pedir algo. Como no encontro de Jesus com a samaritana, ele é quem pede a ela, você pode me dar água? Filho meu, dá-me o teu coração, é o que vamos ouvir nesse dia.

As pessoas normalmente imaginam que gerar filhos saudáveis, de boa índole e bom caráter, é obra do acaso, da combinação de fatores aleatórios ou da associação de genes corretos. Bom, isso não é o pior. Tem gente que acredita até que depende do signo zodiacal ou da constelação ascendente ou até de um bom anjo da guarda. Mas toda essa gente está enganada. Para se formar este tipo de pessoa há necessidade de muitas horas dedicadas à sua educação. É preciso que os pais lhe dediquem total atenção, que lhe passem irrepreensíveis exemplos, que estejam dispostos a renunciar a muitas coisas em suas vidas em favor deles. É preciso que lhe transmitam segurança, tranquilidade e que sejam criadas em um ambiente de amor e respeito. É uma educação que leva praticamente uma vida.

Não sei bem qual foi a corrente de pensamento que surgiu a com a ideia de que devemos deixar a criança crescer e desenvolver seu intelecto, para ela mesma escolher o seu destino. Hoje sabe que isso nunca deu certo, que não tem dado certo e que jamais dará certo. Mas sabemos também que muitos pais que nunca se mostraram de acordo com esta corrente filosófica em vários aspectos, quando se deparam com o assunto religião, aí então são totalmente adeptos ao “Laissez faire”, ao deixe acontecer naturalmente. Esses mesmos pais que na hora em que o filho não quer ir para a escola, saem arrastando a criança pelo braço. Da mesma forma, quando os filhos não querem tomar remédio, enfiam o medicamento garganta a baixo, são moderninhos somente no que diz respeito à fé, e dizem: quando ele crescer decidirá por si que religião seguir.

Por isso é que a Bíblia, desde os seus escritos mais remotos, desde suas narrativas mais antigas ensina ao povo de Deus como deve ser a educação religiosa. Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Sabem como por onde se começa amar a Deus? Não é pela rejeição de outros deuses e outras doutrinas, nem pelo cumprimento irrestrito de todos os sacramentos e rituais, muito menos pela elaboração e repetição de credos comprometedores. Isso até pode ser consequência, mas não começa por aí não. Começa pela obediência, simplesmente fazendo o dever de casa. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. É verdade, os pais da Bíblia sabiam de coisas que precisamos aprender urgentemente.

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