Pão da vida - os convertidos

Pentecostes, Luis Tristán(1585-1624)
Então ele perguntou aos doze discípulos: — Será que vocês também querem ir embora? Simão Pedro respondeu: — Quem é que nós vamos seguir? O senhor tem as palavras que dão vida eterna! E nós cremos e sabemos que o senhor é o Santo que Deus enviou. Jo 6,67-69. Leia todo este capítulo.

Com toda certeza o menor grupo foi aquele que permaneceu ao lado de Jesus após o duro discurso. É certo também que não contava com um número muito maior do que os doze homens citados pelos textos, acrescido de umas poucas mulheres. Nem por isso podemos dizer que era um grupo
seguro na sua decisão, que possuía uma fé inabalável e estava firmemente convicto. Se fôssemos fazer uma comparação com a Teologia dos profetas no Primeiro Testamento sobre o “Resto de Israel”, diríamos que estes eram o resto dos discípulos de Cristo, a pequena parcela que conseguiu sobreviver depois que Deus agiu firmemente na história dos homens. Se tivéssemos que escolher uma pessoa para representar este grupo, a escolha recairia inquestionavelmente sobre Pedro, sem dúvida a expressão máxima da ambiguidade que se instalou entre eles. O próprio texto se incumbiu de fazer esta escolha quando fez dele o portavoz da decisão que havia sido tomada em conjunto, mas em meio às murmurações de costume. 

Tenho pra mim que saber de fato quem era Jesus no contexto do plano de Deus, dificilmente eles sabiam. Mesmo que Pedro já o houvesse confessado com o Santo de Deus, e Filho do Deus Vivo, suas atitudes posteriores não condizem com este elevado grau de fé. Vislumbrar um futuro brilhante e promissor a partir daquela decisão, podemos assegurar que eles também não vislumbraram. A pergunta, desta vez dirigida diretamente a eles, ainda era a mesma, e os atingiu com surpresa e aridez de igual intensidade que aos demais grupos citados anteriormente. A sua resposta também não foi um não definitivo e convicto, mas sim a aquela que expressava o sentimento de quem não tem alternativa: A quem iremos? A quem seguiremos daqui para frente? É de crucial importância este sentimento no cristão. Foi assim que se sentiram as várias pessoas que manifestaram o desejo de seguir Jesus. Foi assim com o jovem rico, que saiu triste por ter que abandonar a segurança dos seus muitos bens. Foi assim também com o outro rapaz que queria manter-se firmemente ancorado com os laços com o passado, quando antes de seguir Jesus queria enterrar seus pais, ou seja, queria receber a sua herança. Deixe que os mortos enterrem seus mortos, foi o que ouviu de Jesus. Deixe a herança do mundo para o mundo, foi o que ele entendeu. 

Nenhuma garantia extra foi dada a esse pequeno grupo. Nenhuma promessa havia sido feita secretamente, sem que os demais grupos soubessem. Eles não foram atrás de outro Messias porque eles não havia outro Messias. O Messias era Jesus Cristo, aquele lhes falava e ponto final. Eles não cederam à tentação de ir atrás do apóstolo fulano, nem do missionário beltrano, muito menos do bispo primaz Don Cicrano. Ainda que completamente aturdidos pela veemência da questão que estavam envolvidos, no fundo eles sabiam que a verdade estava com Jesus, fosse ela a mais causticante que se apresentasse. 

A quem iremos? No capítulo 13, verso 15 do livro que leva o seu nome, Jó faz uma afirmação de igual perplexidade. Responde ele aos seus “amigos” quando questionado na sua fé em Deus diante do próprio infortúnio: Ainda que ele me mate, nele esperarei. Esta é a resposta do crente em Jesus Cristo. A resposta de quem não tem a sua esperança depositada em qualquer outra pessoa, instituição ou circunstância. É a resposta de quem lhe foi tirado todo chão de certezas e convicções, e só lhe resta a fé. É a reposta que deu Hans Küng quando disse: O cristão é aquele para quem Jesus Cristo é definitivo. Se um dia a Arqueologia encontrasse a tumba de Jesus, e atestasse firmemente que aqueles eram seus ossos, isso nada mudaria para ele. Para quem acha absurda e inverossímil esta hipótese, concluo com Dostoievsky: Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade.

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