O que é PECADO? (no NT)

Adultério, Joel Quiggle (1981-)
A primeira grande diferença que o Segundo Testamento nos mostra com relação ao pecado é que ele se apresenta de duas categorias distintas: pecados cometidos por fraqueza, que embora entristeçam o coração do pecador, não chegam a tornar o homem inimigo de Deus, e os pecados propriamente ditos, que afrontam diretamente a
Deus em sua onipotência, onisciência e onipresença, ocasionando um rompimento na ligação com ele. Para estes últimos o perdão depende exclusivamente da graça e da misericórdia de Deus, já os outros o homem obtém o perdão quando o homem age concretamente reparando a falta que cometera perdoando a si mesmo e ao próximo. Jesus expressou esta forma de obtenção de perdão algumas vezes, porém nunca tão especificamente quando falou da oferta, que deveria ser entregue a Deus apenas após a reconciliação com o irmão com que tivera um litígio.

Isto, porém não é uma definição quantitativa de pecado. Para o Segundo Testamento não existe pecadinho nem pecadão. O pecado não chega a ser uma atitude isolada, mas é antes um estado pré concebido pela consciência e que é levado a cabo pela vontade. Até mesmo o exagerado rigor no cumprimento da lei, para Jesus era considerado pecado, posto que o homem não o fazia por amor a Deus, mas sim por soberba e egoísmo, segundo o desejo do seu coração. O contrário de pecador não é justo, posto que este é um conceito meramente humano, pois justo é aquele que faz o que é bom aos olhos do homem, enquanto que o que faz a vontade de Deus ainda se reconhece como pecador.

As ênfases sobre pecado são distintas em cada teologia. Para Jesus o homem vive entre dois reinos que se opõem drasticamente: o Reino de seu Pai e o Reino das Trevas. Ele chega a exigir uma escolha posto que ninguém pode viver duplamente nos dois reinos: Não podeis servir a Deus e a Mamon. Jesus exige conversão e fé como requisitos fundamentais para o ingresso do pecador no Reino de Deus.

Para Paulo o pecado era uma compulsão interior que levava o homem a fazer justamente aquilo que ele não queria, impedindo-o de fazer o que realmente queria. Neste estado o homem se encontra afastado de Deus e impotente para voltar-se para ele. Esta é a solidariedade trágica com o inevitável da nossa existência. Só a graça de Deus pode nos libertar desta inevitabilidade, assim como somente o homem que se encontra neste estado pode ser alcançado por ela. Mas para ele este resgate não é definitivo, posto que o homem pode muito bem voltar a cair sob o domínio do pecado. Para Paulo, pecado e graça são inseparáveis.

João é o pensador mais complacente. Mesmo que considere o aspecto negativo do pecado, nunca fala em penitência ou conversão, uma vez que a revelação de Cristo é tão intensa que faz com que ele viva antecipadamente uma realidade que ainda não é plena. Porém o mandamento que eu estou dando a vocês é novo porque a sua verdade é vista em Cristo e também em vocês. Pois a escuridão está passando, e já está brilhando a verdadeira luz. Enquanto os sinóticos falam repetidas vezes em pecados, João usa preferencialmente a palavra no singular, fazendo entender que considerava o pecado a principal fonte de poder do príncipe deste mundo. João também coloca o homem entre dois mundos: o mundo do amor, que é a aproximação íntima com a fonte deste amor que é Deus, e o mundo adverso a ele, que é o mundo da mentira que conduz ao ódio.

Para o Segundo Testamento a noção antiga de que pecado é uma afronta direta a Deus não é suficiente e nem completa, uma vez que considera pecado a não obediência e a não sujeição ao seu Filho, o Redentor da Humanidade. É pela fé em Cristo que o ser humano pode viver integralmente as bênçãos do Reino de Deus, e esta sim é uma posição definitiva, posto que fora deste Reino só existem trevas, juízo e inferno.

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