O que é ÍDOLO?

Adoração de ídolos, iluminura do século XIV, França
A Bíblia é a história do povo de Deus tentando se desvencilhar da tentação de adorar ídolos a partir do dia que Deus tomou Abraão, que servia a outros deuses. Mas essa com os ídolos ruptura, embora radical, não foi uma coisa adquirida de uma vez; os seus descendentes consanguíneos e na fé deverão sempre
tornar a repeti-la, deverão sempre renovar sua fidelidade ao Eterno em vez de seguir a vaidade, que era o nome que Jeremias dava aos ídolos. Mas o erro da idolatria não está apenas em seguir outros deuses, mas sim em reverenciar os ídolos, e isso acontecia dentro do próprio Judaísmo, como também pode acontecer no Cristianismo. Desde o Decálogo Israel aprende que não deve fabricar imagens para adorá-las, principalmente imagens humanas, pois só o homem em carne e osso é a imagem de Deus. Esculpia-se um touro para simbolizar o aspecto da virilidade divina, como se este fosse um dos atributos imprescindíveis de Deus, e isso era motivo da chacota dos profetas: Agora, pecam mais e mais, e da sua prata fazem imagens de fundição, ídolos segundo o seu conceito, todos obra de artífices, e dizem: Sacrificai a eles. Homens até beijam bezerros! (Os 13,2) Quer se trate de falsos deuses ou da sua própria imagem a idolatria não era tolerada pelo Deus de Israel, e este os deixava à própria sorte, retirando do meio do povo o seu Espírito.

Quando o exílio vem confirmar esta história de idolatria, o povo volta a cair e si, mas ainda assim não desaparecem os idólatras nem os zombadores de Deus: Pois o perverso se gloria da cobiça de sua alma, o avarento maldiz o Senhor e blasfema contra ele. O perverso, na sua soberba, não investiga; que não há Deus são todas as suas cogitações. (Sl 10.3s) No judaísmo tardio, no tempo dos macabeus, servir aos ídolos do helenismo era aderir a um humanismo incompatível com a fé que Deus esperava do seu povo: até muitos israelitas adotaram a religião oficial e profanaram o sábado. (IMc 1,43), era preciso fazer a terrível escolha entre adorá-los ou ser martirizado: Qualquer que se não prostrar e não a adorar será, no mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente. (Dn 3,6)

O Segundo Testamento também tem este mesmo perfil, onde os cristãos são confrontados com a adoração de ídolos e são permanentemente tentados a cair no paganismo que impregna a vida cotidiana. É preciso fugir da idolatria para entrar no Reino: Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. (IICo 6.16)

A adoração aos ídolos tem encontra um divisor de águas em Jeremias. Antes dele, era pecado adorar outros deuses, porque Israel admitia a existência deles, mas depois deste profeta, a maldição era adorar falsos deuses, pois o Deus de Israel era o único e verdadeiro Deus. Embora não existindo, esses ídolos tinham poder. Não o poder divino e bom, mas o poder humano e mau. O enfoque dos profetas muda a partir da incoerência de se adorar imagens que nada podem fazer, nem por si mesmas, pois precisam ser carregadas, alimentados e guardadas. Os profetas satirizam aqueles que adoram a criatura em vez de adorar o criador. É um fruto mortífero, pois mesmo que sejam inócuos, fazem o povo se afastar da Fonte da Vida. Divinizar defuntos, personagens de prestígio ou adorar as forças da natureza é apenas o começo de toda essa perversão espiritual que leva o homem a se afastar de Deus.

Paulo vai ainda mais longe quando diz que estes trocaram a glória de um Deus incorruptível por uma mera representação dele: Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis. (Rm 1.20) A idolatria não é um erro superável de uma vez por todas, ela renasce sob diversas formas. A partir do momento que cessa o seu serviço a Deus, a pessoa torna-se escrava de toda espécie de senhores, seja o dinheiro, o vinho, a cobiça ou o poder. Tudo isso leva à morte, porque atrás do vício da idolatria esconde-se o desconhecimento de um Deus que não é apenas único, mas o único ser capaz de ser inteiramente merecedor da nossa fidelidade e confiança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...