Quem está no comando?

A inocência, Bouguereau, 1893
Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem. Gn 50.20

Esta talvez seja a pergunta mais pertinente que devemos fazer em um dia em que nos reunimos para deixar para trás mais um período conturbado de nossas vidas e ingressarmos em um novo período cheio de esperanças pelas vislumbrantes possibilidades de mudanças. Mais da metade da população da terra vai dizer que é Deus quem está no comando, porém, muito poucos vão poder explicar satisfatoriamente a resposta quando forem questionados: Você acha que Deus está no comando, simplesmente porque ele é Deus? Não são todos os ateus que não acreditam na existência de Deus, os mais
ferrenhos são aqueles que dizem que Deus criou o mundo, e assim como se faz nos relógios antigos, deu corda nele, e o deixou à sua própria sorte. Diante disso, precisamos conferir e repensar quais foram os argumentos que nos levaram a crer que Deus está no comando.

Primeiramente precisamos verificar o que está dentro do coração de Deus e sabermos quais são as suas intenções para nós com este controle, e, logo de saída, vamos nos deparar com um paradoxo muito grande: Deus é o único soberano do universo, mas ao mesmo tempo ele nos tem dado liberdade de fazermos tudo que queremos. Poderíamos realmente dizer que Deus está no controle absoluto de tudo, enquanto ele mesmo, por nossa causa, limita o seu controle? Como ele se sentiria totalmente no controle quando nos dá o livre arbítrio e, por outro lado, tem a consciência plena de tudo o que podemos fazer com este dom? Como Deus não se sentiria no controle quando é capaz de converter em bem todo o mal que fazemos, como também todo o mal que pode acontecer conosco e ao nosso redor? Eu sei de antemão que é difícil para nós aceitarmos estas questões, principalmente quando temos a certeza de que imediatamente aparecerá alguém para dizer: Se Deus está no controle absoluto, por que ele não faz isso melhor? Por que deixa que coisas ruins aconteçam?

Esta não é um dúvida dos outros, ela também é nossa na medida em que não aceitamos integralmente as três verdades absolutas sobre Deus: ele é onipotente, tem todo o poder; ele é onisciente, sabe todas as coisas; ele é gracioso, seu amor não tem limite. Invariavelmente caímos na tentação de sacrificar um desses pilares que sustentam a nossa fé, porque achamos que é mais fácil tentar entender o que está acontecendo conosco ou em nosso mundo. Se Deus é todo amor, todo poder e todo conhecimento por que ele não faz a coisas que mais precisamos? Essa dúvida prevalece simplesmente porque não conseguimos suportar o que Deus faz conosco para nos tirar da dúvida criativa e nos levar à confiança consciente. Por isso ficamos titubeando entre o poder e o conhecimento de Deus, quando na verdade a resposta está no seu amor. É o seu amor que impulsiona o uso da sua onipotência e da sua onisciência no seu controle sobre todas as coisas e pessoas. O que ele faz com todo o seu poder e com todo o seu conhecimento é condicionado pela sua decisão de nos amar e nos salvar incondicionalmente. Ele nos quer de volta, ele quer nos perdoar, ele quer nos salvar e tudo que ele faz tem por meta a decisão de nos tornar pessoas saudáveis e maduras.

Grandeza de caráter, grandeza de personalidade não são produtos de uma vida cômoda, ou de uma vida tranquila. O caráter não nasce de situações pacíficas, mas sim da turbulência da guerra interior que travamos com o nosso egoísmo. Deus usa todas as coisas ruins que fazemos a nós e aos outros para nos levar a uma confiança mais profunda nele, para nos assegurar que a nossa dependência dele é o melhor para as nossas vidas. As suas intervenções são ajustadas perfeitamente para nos ajudar, sem, contudo, negar a nossa liberdade.

Temos tentado evitar esse paradoxo entre o poder de Deus e a nossa liberdade optando por um dos lados. Temos sido moles demais ou duros demais com a nossa consciência, mas a verdade é que Deus nos dá liberdade conhecendo exatamente como somos e o que podemos fazer com ela, mas não há alternativa. Podemos ser fantoches ou pessoas, é um ou outro. Por causa do seu amor, Deus deseja que o amemos, mesmo com todo o perigo do mau uso da nossa liberdade de errar e pecar, antes de amá-lo de todo o coração. O que mais deveríamos pedir no dia de hoje é que ele não nos deixe sozinhos no uso da nossa liberdade, e assim vamos saber quem está realmente no controle da nossa vida e no destino do mundo.

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