Quem está no comando? (final)

José interpreta os sonhos de Faraó,
Peter van Cornelius (1783-1867)
Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem. Gn 50.20
Ao reler a meditação de ontem, verifiquei que certos argumentos ficaram conturbados, o que fez com que o texto tivesse um final abrupto e não muito claro. Diante disso, peço licença para apresentar mais alguns argumentos para melhorá-lo.

A verdade sobre o controle sábio e singular de Deus é a essência da mensagem bíblica. Os capítulos 37 a 50 do Gênesis nos dão um retrato de um homem que descobriu que Deus está no controle, apesar das circunstâncias negarem isso intempestivamente. Um homem que descobriu que Deus está ainda mais no controle, quando as circunstâncias insistem em negar isso. Descobriu que Deus está no controle, mesmo quando ele dá a liberdade de escolha. Descobriu que as intenções de Deus são sempre usadas para um propósito maior. A história de José do Egito vem confirmar que Deus é todo poder, todo conhecimento e todo amor. O texto base desta meditação é a confirmação de que Deus estava com José em todas as circunstâncias. Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem.

Vamos analisar rapidamente o que levou José a esta conclusão libertadora. Primeiramente, ele é vítima de uma trama sórdida dos irmãos mais velhos, que simularam para seu pai a sua morte, quando na verdade, aos dezessete anos, fizeram dele um escravo numa terra estranha. E a nossa pergunta é essa: Por que Deus permitiu que isso acontecesse a José? Porque se tivesse acontecido segundo a nossa vontade o propósito de Deus não seria alcançado. A segunda cena aparentemente trágica aconteceu na casa de Potifar, em outra trama contra sua vida, desta vez através da mulher deste oficial egípcio. Mais uma vez Deus interveio e usou o pior para conseguir o melhor. O escritor do Gênesis descobriu que Deus estava por trás de todas essas circunstâncias negativas na vida dele, quando disse repetidas vezes: O Senhor estava com José. Isso significa que Deus estava no controle do que acontecia com José e ao redor dele. Que virada espetacular de eventos. Notem como Deus usou todas as tragédias para fazer de José o homem que a história da salvação tanto precisava, transformando um moço orgulhoso e arrogante em um homem de caráter, que veio a livrar da fome uma nação e os próprios irmãos que o fizeram tão mal. No reencontro em que José não é reconhecido pelos irmãos, nós podemos avaliar o complexo de emoções que o assaltaram naquela hora: dor, saudade, solidão, angústia, mas o sentimento que prevaleceu foi a graça de Deus, que operando na sua vida lhe deu a capacidade de perdoar e aceitar os irmãos de volta.

Deus me enviou adiante de vós para vos conservar a vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento. Diante dessa verdade os irmãos não tiveram alternativa senão de pedir o seu perdão. A resposta de José, produzida pelo seu sofrimento, nos dá a chave para entendermos a providência de Deus: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem. Estas palavras penetram a grandeza da soberania de Deus, penetram o nosso livre arbítrio, penetram a desumanidade do ser humano contra si e contra os outros e penetram o poder de Deus de empregar tudo isso para realizar o seu propósito verdadeiro. José se recusou a tomar o lugar de Deus julgando o seus irmãos. Ele viu que tudo o que havia passado serviu também para quebrar o seu orgulho e arrogância, mostrou-lhe a sua parcela de culpa na história e lhe capacitou estar pronto para servir os propósitos de Deus. Finalmente Deus tinha o homem que precisava, em quem confiava plenamente.

Deus sempre revelou a sua capacidade de transformar o mal em bem, e é aí que a nossa liberdade ganha uma dimensão maior. Mas não são apenas os pequenos males que Deus transforma em bem. Na cruz a humanidade fez o pior mal que poderia fazer contra Deus em sua história, e Deus pegou esta maior expressão do mal, a maior força negativa já levantada contra o seu amor, e transformou no que de melhor poderia acontecer ao ser humano. A ressurreição de Cristo é a palavra final de que todas as coisas que acontecem neste mundo concorrem para o nosso bem, pois ela é a certeza de que definitiva e incontestavelmente Deus está no controle.

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