O que é ADULTÉRIO?

Cristo e a adúltera, Bernardelli (1852-1931)
Por mais que o Decálogo e os profetas condenem de modo absoluto a infidelidade entre os dois cônjuges, o significado pleno da palavra adultério só será conhecido na revelação de Jesus Cristo. Listado juntamente com os mais graves delitos, o adultério é um ato que viola primordialmente o direito de posse que o marido ou seu noivo tem sobre a mulher.
A mulher, então, é vista mais como propriedade do homem do que propriamente como uma pessoa. Isto coloca sobre ela um peso infinitamente maior, seguido de penas mais rígidas. Este rigor da fidelidade da mulher era exigido desde antes da antiga aliança, fato que só encontraria justificativa na relação espiritual entre Deus, o esposo, e a sua esposa Israel.

Esta classificação inferior da mulher estava intrinsecamente ligada ao surgimento da poligamia, que por razões sectárias é atribuído a um descendente de Caim, que foi um homem reconhecidamente violento: Lameque tomou para si duas esposas: o nome de uma era Ada, a outra se chamava Zilá. (Gn 4.19) A poligamia seria tolerada por muito tempo, mesmo que a sabedoria dos notáveis a apontasse como um grave adultério, instruindo os homens a reservarem o seu amor à primeira esposa: Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade. (Pv 5.18) Mais enfáticos que estes foram os profetas que conclamavam o próprio Deus como testemunha de desta deslealdade: E perguntais: Por quê? Porque o Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. (Ml 2.14) Contudo, era sobre a frequência com que os homens de Israel visitavam as prostitutas, o que estranhamente não era considerado adultério, que recaía o maior juízo: Pois cova profunda é a prostituta, poço estreito, a alheia. Ela, como salteador, se põe a espreitar e multiplica entre os homens os infiéis. (Pv 23.27s)

Jesus se mostra misericordioso com a adúltera, mas condena o adultério em si, pois desvenda no casamento dimensões maiores do um simples acordo conjugal. Ele liga o homem à mulher de tal forma que praticamente inviabiliza qualquer possibilidade de divórcio: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. (Mt 19.5s) Jesus dá ao matrimônio um valor extremo, pois considera adúltero o homem que, depois de ter se separado de uma mulher, volte a unir-se a ela. Na sua concepção de fidelidade conjugal, considera adultério o simples fato de olhar cobiçosamente a mulher ou o marido alheios: Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. (Mt 5.28)

Paulo inclui o adultério na lista de pecados que exclui a pessoa do Reino: Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas. (ICo 6.9) Conclama para que todos busquem exclusivamente no amor a fonte da fidelidade:  Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Rm 19.9)

Na vida espiritual o vínculo que une o homem a Deus exige que este amor seja fiel, e tem como símbolo um casamento indissolúvel, sendo que qualquer infidelidade será considerada adultério e prostituição, pois o homem que se entrega à idolatria se assemelha à prostituta que anda atrás dos seus amantes. Pois sua mãe se prostituiu; aquela que os concebeu houve-se torpemente, porque diz: Irei atrás de meus amantes, que me dão o meu pão e a minha água, a minha lã e o meu linho, o meu óleo e as minhas bebidas. (Os 2.5) Jesus aplica esta mesma imagem também à falta de fé, pois chama aqueles que não produzem os frutos exigidos de geração de adúlteros. Por todas essas condenações fica luminosamente ressaltado que a fidelidade absoluta é resultado dos novos mandamentos impostos por Jesus aos seus seguidores: A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Lc 10.27)

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