O que é ESCÂNDALO? I

Cisnes refletem elefantes, Dali
Escandalizar significa, na Bíblia, fazer tropeçar ou ser motivo de queda de alguém. O escândalo é literalmente uma armadilha que se põe no caminho do adversário para fazê-lo cair, mas na realidade há muitas outras formas de fazer alguém cair, quer no sentido moral, quer no religioso. A tentação ou
provação são escândalos, mas sempre tendo como referência a fé em Deus. O Primeiro Testamento mostra que Deus pode ser um escândalo para Israel: Ele vos será santuário; mas será pedra de tropeço e rocha de ofensa às duas casas de Israel, laço e armadilha aos moradores de Jerusalém. (Is 8.14) Pela sua maneira de agir, Deus põe à prova a fé do seu povo. Da mesma forma Jesus apareceu aos homens como um sinal de contradição, pois foi enviado para a salvação de todos, sendo, na realidade, ocasião de “endurecimento” para muitos: Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição. (Lc 2.34)

Tanto na sua pessoa como na sua vida tudo o que Jesus faz é escândalo. Filho de um carpinteiro, da cidade marginal de Nazaré, identificou-se com o Messias, mas não assumiu o seu caráter vingador e morre nas mãos do poder opressor sem esboçar qualquer resistência. João destaca o que o caráter escandaloso do evangelho não pode ser compreendido, e sim aceito pela fé. Quem é seduzido a fazê-lo tropeça no mistério tríplice da Encarnação, da Redenção e da Ascensão. Logo ao se apresentar, Jesus intima os homens a optar por ele ou contra ele. A opção por ele leva ao regozijo, mas para os contra ele será motivo de escândalo. A igreja primitiva, dirigida pelos apóstolos, também contrapôs o oráculo de Isaías à vida e ao ministério de Jesus. Ele era a pedra de tropeço, mas ao mesmo tempo a pedra angular. Cristo é ao mesmo tempo fonte de vida e indício de morte: Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas? (IICo 2,15s)

Paulo teve que enfrentar esse escândalo tanto no mundo grego quanto no mundo judeu. Teve que experimentar esse escândalo antes da sua conversão. Desta batalha interior ele concluiu que a cruz de Cristo é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. A cruz só pode ser vista como vitória do poder de Deus por aqueles que são salvos, porque para os que se perdem é somente escândalo e loucura. A sabedoria humana não tem como entender que aprouve Deus salvar o mundo através de um Messias humilhado, sofredor e crucificado. Somente o Espírito de Deus faz com que o homem consiga superar este escândalo da cruz: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. ICo 2.14)

Contudo, o escândalo de Deus não se extingue na cruz. Por mais absurda que seja esta concepção, ela segue, ou melhor, ela é apresentada por outra forma de escândalo e loucura: a mensagem profética. Após receber com euforia o seu chamado, Isaías se assusta com a loucura de ter que pregar para quem não vai ouvir, entender e nem crer: Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo. (Is 6.10) Mais tarde, avaliando o seu ministério profético, desabafa em tom de derrota: Quem acreditou na minha pregação? Quem não creu na mensagem profética, quem não creu no escândalo da cruz ainda lhe resta a chance de crer na loucura da pregação: Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação. (ICo 1.21) (continua)

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