O que é INIMIGO? III

Armadura de Deus, Royal Military College, Canadá
Mas esta boa vontade para com o inimigo ainda não era suficiente para Jesus. Este preceito poderia até resolver questões básicas de convivência, mas não faria quem quer que fosse viver no Reino de seu Pai. Para o cristão o mandamento é esse: Amais os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam. Dentre as novas exigências ou novos mandamentos que Jesus encarregou aos seus discípulos esta refulge como um dos mais importantes.


Jesus teve inimigos declarados. Vimos seus inimigos se multiplicarem ao longo do seu ministério. Desde aqueles que não o quiseram como rei até os que o fizeram morrer. Mas ele não somente perdoou a todos, como pediu a seu Pai que também os perdoasse. Assim deve fazer o discípulo imitando o seu Mestre. Contudo, o cristão que perdoa não se ilude com o mundo à sua volta, assim como Jesus não se iludiu com os fariseus, anciãos ou mesmo com Herodes, mas estava ciente de que o que fez acumulou brasas vivas sobre a cabeça deles. Esse não é o fogo de uma vingança subliminar, mas o fogo que depura a consciência. O fogo que pode fazer com que o inimigo reveja seus conceitos sobre nós. Se ele assim o fizer, fazemos do inimigo um amigo. Não é de forma alguma um artifício maquiavélico, mas o uso pleno da sabedoria. Isso foi exatamente o que Deus fez conosco quando ainda éramos seus inimigos: reconciliou-nos consigo pela morte de seu filho, acumulando brasas vivas sobre a nossa cabeça. E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro. (Cl 1.21ss)

Jesus, portanto, não veio negar a inimizade, mas sim manifestá-la em sua dimensão completa no momento em que a derrotou. A inimizade não é um fato, mas um mistério. É um sinal do reino das trevas, do inimigo de Deus por excelência. Desde o Éden a inimizade se contrapôs entre os filhos de Eva. Inimigo dos homens, inimigo das nossas almas, inimigo de Deus, não importa seu nome, com o que ou com quem se parece, estamos constantemente expostos ao seu ataque. Justamente causa desse poder de cisão é que Jesus deu aos seus o poder sobre toda potestade que vem do inimigo: Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. (Lc 10.19) Esse poder vem do próprio mal que Jesus derrotou na cruz, quando se ofereceu voluntariamente aos seus golpes mais cruéis. Esse poder vem da morte pela morte, que derrubou o muro de inimizade que dividia a humanidade: Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. (Ef 2.14ss)

Estamos todos à espera do dia em que Cristo porá todos os seus inimigos debaixo de seus pés, e o último deles é justamente a morte, o cristão combate, ao lado de Jesus, o velho inimigo do gênero humano: Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. (Ef 6.12) É em torno dele que alguns homens se comportam como inimigos da cruz. O grande inimigo sabe que a cruz nos leva ao triunfo, e que fora dela não há reconciliação entre Deus e os homens. 

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