O que é REVELAÇÃO? I

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.
Abraão, Sara e Agar, Matthias Stom (1600-1652)
Neste texto de Hebreus 1,1 e 2 encontramos, além das diferenças essenciais entre as revelações do Primeiro e do Segundo Testamentos, uma definição do que é a revelação bíblica. O texto diz que Deus fala, abre seu coração, se manifesta, faz-se reconhecer, portanto, não se trata apenas da comunicação das verdades infalíveis. O texto também fala de que modo Deus revelava a sua vontade no Primeiro Testamento pela lei, o que dava o caráter permanente da sua revelação; a sua onipotência e sua glória, pela criação e pela natureza, o que o identificava da impotência dos ídolos mortos; a sua revelação mais objetiva e circunstancial, preferencialmente pelos profetas.

O escritor da Carta aos Hebreus diz ainda que a revelação de Deus no Segundo Testamento alcança a sua plenitude em Jesus, que é onde a revelação se aperfeiçoa e se completa. Paulo, cuja conversão ao Cristianismo é celebrada hoje, 25 de janeiro, fala que Jesus é a revelação de um mistério que estava escondido, e que ao ser descoberto dá a sabedoria que não pode ser explicada pela razão humana. Para ele, a revelação é o comunicado progressivo do plano divino para a salvação em Cristo. Não é algo que pertença ao passado, mas faz parte de um ato escatológico de Deus, que inclui o enriquecimento dos conhecimentos das coisas espirituais. Em paralelo, os apóstolos são reveladores da justiça salvadora de Deus, pois o seu sofrimento e martírio são a revelação da vida e da morte gloriosa de Jesus: Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. (IICo 4.10ss)

A revelação não é um tesouro pessoal, mas deve ser pregada a todos. Também não é uma doutrina secreta para alguns poucos iniciados, como eram os mistérios das religiões pagãs. É sim, ao mesmo tempo, para o descobrimento do sentido mais pleno da salvação para a humanidade e a admiração do que não era totalmente conhecido, embora estivesse indicado nos escritos proféticos e na Torah. A exegese inspirada dos apóstolos soube encontrar na história de Abraão, Sara e Agar o sentido mais profundo do que uma infame segregação racial. Soube ver que a revelação das promessas se estendia a todos os herdeiros da fé de Abraão, e não apenas aos seus consanguíneos.

Apesar de revelada plenamente em Cristo, a revelação do evangelho ainda continua escondida, o que faz dele um escândalo para os que se fundamentam na lei e um escândalo para os sábios deste mundo. É uma transformação que se efetua não somente pelo som da pregação, mas também através de uma ação do Espírito, que abre os corações para receber a verdade revelada. Ela é um dom de Deus, mas não um dom que se possa aceitar ou recusar, não é uma simples questão de receber ou não receber, de crer ou não crer. A revelação de Deus é determinante, pois traz a justiça que divide a humanidade em dois grupos: Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. (Jo 3.18)

Ainda prevalecem entre nós alguns mistérios que não foram revelados. Estes só serão conhecidos na plenitude do Reino, quando a ressurreição do corpo mostrará toda a glória da filiação divina e a futura glória celeste. Mas até lá a revelação de Deus porá a descoberto as intenções e pensamentos mais escondidos, e trará o juízo de Deus à humanidade que se opõe a ela: Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. ((Rm 1.20s)

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