O que é VERGONHA?

A vergonha, Goia (1746-1828)
Na linguagem da sabedoria popular, vergonha é roubar e não poder carregar. Para nós é algo que quando acontece, nos deixa tomados de um sentimento de decepção profunda conosco mesmo, principalmente e muito agravado, quando é percebido pelas outras pessoas. Mas nas Escrituras, vergonha se aproxima da noção de cair derrotado por terra, de estar nu ou faminto, de retroceder ma escala social ou de ser completamente inútil. Outra diferença é que para nós vergonha é tão somente uma situação típica de frustração, mas para a Bíblia ela tem um alcance maior, pois se estende a qualquer sofrimento. Pode ser por um
estado de penúria: Eu os livrarei de todas as coisas que os tornam impuros. Darei ordem para que haja bastante trigo, e assim não haverá mais tempos de fome no meio de vocês. Aumentarei a produção de frutas e das plantações de cereais, de modo que não haverá mais épocas de fome que façam vocês passarem vergonha no meio das outras nações (Ez 36.29s); pode ser uma forma de punição: Respondeu o Senhor a Moisés: Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria envergonhada por sete dias? Seja detida sete dias fora do arraial e, depois, recolhida. (Nm 12,14); como preparação para um ritual: Então, imolaram o cordeiro da Páscoa no décimo quarto dia do segundo mês; os sacerdotes e os levitas se envergonharam, e se santificaram, e trouxeram holocaustos à Casa do Senhor. (IICr 30.15)

Para o povo da Bíblia, o sofrimento que é manifesto à vista dos outros acarreta em juízo, aumentando, assim, o seu sofrimento através da vergonha. Por isto, as noções de julgamento e vergonha estão sempre ligadas, sendo que o julgamento é o instante em que, no decurso desta vida ou no seu fim, se revela a honra e a vergonha diante dos homens e diante de Deus.

A vergonha da derrota pública e notória, também é alvo da mensagem bíblica. O desapontamento pela falha inesperada de um planejamento, de uma pessoa ou de um instrumento, que se mostraram inoperantes em uma hora crucial, também leva o indivíduo a ficar desmoralizado e acende imediatamente o sentimento de vergonha. Justamente por isso a Bíblia reafirma o sustentáculo, o apoio e o amparo como antítese à vergonha:Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta. (Sl 127.4s) Deus é o arrimo do justo, este é o apoio que não falha, daí a prece do justo ser sempre no sentido de não ficar confundo, que, em última análise, é sinônimo de envergonhado: Com efeito, dos que em ti esperam, ninguém será envergonhado; envergonhados serão os que, sem causa, procedem traiçoeiramente. (Sl 25.2) De modo inverso, os falsos arrimos, como Faraó e os ídolos, fatalmente mostrarão a sua nulidade. Tantos estes, como os que confiam neles, por serem insensatos, sofrerão juízo; por não negarem a justiça, serão envergonhados: Porque vos envergonhareis dos carvalhos que cobiçastes e sereis confundidos por causa dos jardins que escolhestes. (Is 1.29) Sua humilhação será maior quando virem os justos, que um dia tentaram humilhar, triunfarem. Envergonhem-se e juntamente sejam cobertos de vexame os que se alegram com o meu mal; cubram-se de pejo e ignomínia os que se engrandecem contra mim. (Sl 35.26)

No Cristianismo a vergonha muda de sentido quando se refere ao ministério de Jesus, aquele que se fez vergonha por nós. O cristão está totalmente envolvido com a vergonha da cruz, embora não possa se envergonhar dela, porque se para o mundo ela é escândalo e loucura, para nós é poder de Deus e sabedoria de Deus. Deus, na sua sabedoria, escolheu as coisas fracas para envergonhar as fracas, as humildes para envergonhar as majestosas, e as loucas para envergonhar as sábias, para que ninguém se vanglorie diante dele. Se somos salvos não foi porque merecemos, foi pela sua graça, para que ninguém se orgulhe. Por isso a graça de Deus é motivo de vergonha para o homem, porque o que Deus lhe concede é por graça e não por merecimento.

O vocabulário paulino é extensamente rico quando se refere à vergonha, e isto atesta a sensibilidade deste apóstolo. Assim como os antigos, Paulo era sensível aos problemas sociais e às provações pelas quais suas igrejas passavam. O seu entendimento de igreja como corpo de Cristo, pregava unidade e interdependência de tal sorte que não deixava margem para um membro se exaltar diante de outro, pela qualidade do seu ministério. Visto que tantos os apóstolos quanto os discípulos destes não são essenciais ao evangelho. São todos cooperadores em prol de uma causa maior.Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.

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