Quanto tempo esperaremos ainda? I

E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. At 1.4
A última ceia, Tintotetto
A vida nos faz sentar na sala de espera nas horas mais inoportunas, e isso é algo que simplesmente detestamos. Talvez só exista uma coisa pior do que esperar, é esperar na fila. Por conta disso, qualquer um de nós pensa imediatamente em desistir, mas nem sempre podemos. Jesus numa hora crucial da vida dos seus discípulos mandou que eles fizessem justamente isso: esperar. Logicamente que isso não foi bem recebido e nem bem compreendido. Considerem a situação: Eles tinham estado numa boa com Jesus. Para o acompanharem durante três anos em seu ministério libertador, eles tinham dado a ele tudo que tinham e tudo o que podiam. Tinham deixado suas famílias, seus bens e os seus sustentos, convencidos intimamente de que a verdade estava nele e pelas vidas que haviam sido transformadas diante dos seus olhos.


No espaço de uma semana esse mundo maravilhoso desmoronou. Quem antes vira seu mestre ser aclamado como Messias, o via agora pregado numa cruz entre dois ladrões. Eles estavam por baixo, desanimados, derrotados e quem sabe até desesperados. Aí aconteceu o inimaginável, Cristo estava vivo. Deus o tinha ressuscitado. Nada mais os impedia de sair pelo mundo e o transformarem radicalmente. Eles sabiam que esta era a boa nova que deveria ser anunciada, e também queriam correr para compensar as suas falhas durante a paixão e morte de Jesus, quando o abandonaram. Eles estavam prontos, mas Jesus os manda esperar. Isto é o que diz o nosso texto. Que ordem insuportável é essa? Será que não há cegos precisando enxergar, aleijados que precisem andar ou pobres que precisem conhecer o evangelho? Mas ordem era esperar em Jerusalém semana após semana até o dia de Pentecostes. Onde estava a sabedoria desta espera?

Primeiramente, eles precisavam refletir sobre a natureza do Reino de Deus, pois, como Jesus mesmo disse, ele é difícil de achar, ele é bastante evasivo. Ainda que Jesus falasse exclusiva e exaustivamente sobre ele, o Reino de Deus, até hoje, continua a ser muito difícil de ser compreendido, continua, do mesmo modo, evasivo. Eles tinham que compreender que o Reino de Deus é segundo o Espírito de Deus. O modelo de vida que eles tinham era o do Império Romano, que saía pelo mundo para conquistá-lo e dominá-lo pela força, é também o nosso modelo. Esse é o militarismo está presente até nos nossos hinos tradicionais: “Avante, avante ó crentes, soldados de Jesus”. Esse é o Vini, vide, vince (vim, vi e venci) da filosofia. Eles tinham que compreender que o Reino de Deus não exigia o domínio absoluto sobre outros credos e nem a conquista de desmesurada de adeptos, mas deveria fazer com que as pessoas passassem a sem guiadas pelo Espírito.

Outro fato que precisava ser compreendido é que o Reino de Deus possui força própria. Ele não pode ser possuído, conduzido e nem controlado por ninguém. Até gostaríamos de fazer, mas não podemos não. Gostaríamos de fazer todo joelho dobrar e toda língua confessar que Cristo é o Senhor. Mas o Reino de Deus não é moldado desta forma. Então o que podemos fazer? Somente deixá-lo acontecer. Somente descobrir os seus sinais onde e quando eles aparecem. Existe um abismo de diferença entre tentarmos expulsar os males do mundo, agindo como se fôssemos sozinhos e imprescindíveis e atacarmos esses mesmos males entendendo que estamos no conflito, mas que a luta é de Deus. A briga é dele, não é minha e nem sua. Agimos como se não soubéssemos disso, e os nossos estudos, nossas orações e nossas pregações caminham no propósito de tomarmos conta do Reino e fazê-lo acontecer em nosso tempo, segundo a nossa vontade. Mas o Reino de Deus tem o seu próprio tempo, a sua própria vontade. (continua)

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