Qual é a deles?

Todos os que as ouviram guardavam-nas no coração, dizendo: Que virá a ser, pois, este menino? E a mão do Senhor estava com ele. Lucas 1.66

Nascimento de João Batista, Tintoretto em 1772
A cristandade celebra hoje a Natividade de João Batista, a Voz que Clama no Deserto. O nascimento daquele que, segundo Jesus, foi o maior profeta nascido de uma mulher. Um homem cujo nascimento, vida e morte são razoavelmente detalhados na Bíblia, mas cujo ministério lança uma espessa nuvem de questionamentos sobre a atuação da Igreja atual. O primeiro dele, que foi feito pelos seus contemporâneos nesse mesmo dia e mês, ainda ecoa hoje com a mesma ênfase e intensidade: Que virá a ser, pois, este menino?

Fala-se muito hoje nas grandiosas manifestações pelo Brasil a fora. Fala-se com ceticismo, fala-se com esperança, fala-se do desdém e fala-se até com temeridade. Mas a realidade plena é que, excluindo-se a bandidagem acuada pelas UPPs, os saqueadores oportunos, os políticos eleitos ou não que vão na carona, os líderes e militantes de movimentos minoritários, os subversivos de pijama da ditadura militar, professores, médicos, bombeiros e outros profissionais do ensino e da saúde, quem sobra? Alunos do segundo grau e dos primeiros anos do curso superior, ou seja: meninos e meninas, que são quase que a totalidade desse inédito movimento.

Tudo pode ser considerado novo nesse movimento: tanto a convocação que se deu pela novidade da informática através das redes sociais; as concentrações que priorizam o entorno dos estádios de futebol onde se realiza a Copa das Confederações da FIFA; as reivindicações mais abrangentes e menos casuísticas. Mas duas coisas ainda permanecem: a injustiça social e o autoritarismo corrupto de um governo que não estava nem aí para o povo, e a pergunta a respeito da criança que se chamou João Batista, o precursor de um novo tempo, também continua a mesma: Que virá a ser, pois, este menino?

Logicamente que nada do que a imprensa diga sobre o que está acontecendo, isenta de preocupação os pais e avós desses meninos e meninas. Aqueles que viveram os Anos de Chumbo neste país sabem bem o quanto era perigoso manifestar-se contra o governo daquela época, mas cujo ranço e a descendência ainda sobrevivem entre nós. Sabiam bem o quanto as polícias civil, militar, federal e do exército eram eficientes e imediatas para encontrar um subversivo ao regime militar, denunciado anonimamente, que nunca havia sido antes visto, escondido numa caverna no interior do Mato Grosso, vestido de mulher. As mesmas polícias que hoje não conseguem prender um traficante conhecido, no morro onde estão carecas se saber que está instalada a sua central de distribuição de armas e drogas.

Mais do que a qualquer outro segmento da sociedade, esta pergunta está sendo feita à Igreja de Jesus Cristo. Mais do que qualquer outro organismo nesse país, a Igreja é responsável pelo futuro dessa nova e extraordinária geração que aprouve Deus nos agraciar. Os profetas de Deus de hoje usam tatuagem, piercing, pintam e modelam os cabelos de todas as formas e cores, mas estão traduzindo a vontade de Deus de forma avassaladora e revolucionária com a mesma veemência que o aniversariante do dia, João Batista.

Que virá a ser, pois, este menino?  Depende em grande parte da resposta que a Igreja vai dar. Se eles serão o anúncio de que o Reino de Deus mais do que nunca está entre nós, a realização da promessa de um mundo mais justo e mais humano ou se serão deixados à margem, falando sozinhos pelos desertos, enquanto que um governo ineficiente e desumano se municia de todo aparato para trancafiá-los, emudecendo para sempre as suas vozes, ou ainda cortando-lhes as cabeças do movimento, que com um mínimo de aceitação e compreensão da nossa parte, virá como nos veio o Reino dos Céus, para ficar entre nós.


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