As 4 perguntas essenciais I

Jonas, Michelangelo Buonarroti, em 1480
No domingo próximo passado falamos sobre as perguntas essenciais que todos, mais dia menos dia, teríamos obrigatoriamente que responder. Volto, portanto, a citá-las:
1ª - A realidade é má, guiando-nos à morte ou a realidade é boa, guiando-nos à esperança?
2ª - A vida tem significado e propósito ou não passa de um conto narrado por um idiota?
3ª - Qual é a natureza da realidade?
4ª - E mais importante: No fim tudo dará certo para mim, e a vida triunfará sobre a morte, ou não?

Gostaria novamente de abordar este mesmo tema, porém, por um outro ângulo, observado também a partir do frenesi incessante que é a existência humana. Porque parece que no tipo de vida que levamos, estamos sempre respondendo a última pergunta de modo pessimista: no fim nada dará certo. E nessa competitividade que sobrepõe à razão criamos um abismo à nossa volta que evita a aproximação de quem quer que seja. A essência do pecado, que é a separação, nós mesmos criamos. Ficamos isolados de nós mesmos e dos outros, justamente porque nos afastamos do propósito real de nossas vidas.

Embora, numa escala exagerada seja prejudicial, é essa tensão o que nos mantém em movimento constante. Ela nos motiva a procurar algo mais do que as necessidades essenciais, e algo mais do que o simples conforto físico. Uma característica que os outros animais não tem. Todo mundo sente essa ansiedade vaga, todo mundo se sente incompleto. O problema que daí resulta, vem do fato da grande maioria não perceber que essa insatisfação vem da nossa separação de Deus. Preferem procurar o sentido da vida nas visões alucinatórias daqueles que se autoproclamam divinamente iluminados. Fomentam a superstição apenas para tirar vantagens dos que assim acreditam.

Normalmente pensamos que se fôssemos mais bem remunerados, se tivéssemos uma residência maior e mais bem localizada, e se tivéssemos na garagem um carro mais sofisticado, essa inquietação acabaria, mas não é assim. No fim vamos perceber que é totalmente impossível levarmos a vida de modo a conseguirmos tudo o que desejamos. Vamos perceber também que nunca o sucesso pessoal será suficiente para mitigar essa nossa ansiedade. A grande falta na nossa vida não é o sucesso que não conseguimos ou os bens que não adquirimos, mas a falta de comunhão conosco mesmos, que possibilitaria a nossa comunhão com os outros, como também a nossa comunhão com Deus.

Curiosamente, é nas horas em que alcançamos o apogeu que nos sentimos mais sozinhos e deprimidos. Na hora em que tomamos posse do bem mais desejado, percebemos de imediato a nossa pobreza interior. Sentimos que interpretamos mal a realidade. O problema maior disso tudo é que não temos a coragem de confessar o nosso erro, de não aceitar que precisamos dos outros, de declarar a nossa dependência de Deus. Nas nossas lutas pessoais não temos coragem de pedir ajuda nem mesmo das pessoas que estão mais próximas, isso nos descredenciaria por completo, fazendo com que a máscara que ostentamos caia, revelando-nos como realmente somos.

Esse é o paradoxo da natureza humana: a busca incansável de Deus que corre paralela ao nosso afastamento voluntário dele. A hora que mais precisamos da presença de Deus é justamente a hora que mais resistimos à mudança que ele nos propõe. Passamos a vida sem entender que é na hora em que o nosso mundo é ameaçado, quando sentimos a inutilidade de tudo e a nulidade de nós mesmos, na hora em que estamos oprimidos e frustrados é quando estamos abertos à graça de Deus. A hora em que perdemos todas as referências é a hora propícia para Deus tomar o lugar no centro das nossas vidas. Vamos descobrir também que isso não tem preço, custou caro, mas é de graça.

Pode acontecer num instante, pode levar anos, não importa. A fé não é o que cremos a respeito de Deus. A fé atender ao chamado da voz que diz: venham a mim todos os que estão cansados de buscar sentido na vida e sobrecarregados de ansiedade, que eu vou aliviar vocês. (continua)

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