O homem da mão mirrada

Vós que amais o SENHOR, detestai o mal; ele guarda a alma dos seus santos, livra-os da mão dos ímpios. Leia Salmos 97
A cura do homem da mão mirrada, Carlos Alberto (?)
Texto do Rev. Jonas Rezende extraído do livro Salmos para o Espírito
No pequeno livro Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel Garcia Márquez, a palavra que caracteriza os que povoam essa instigante história é imobilismo. Santiago Nasar vai ser assassinado. Todos na cidade sabem, mas ninguém faz nada para impedir o crime. Toda uma população sem generosidade, sem amor.

No salmo que vamos juntos tentar entender melhor, o poeta anônimo constrói uma frase coerente e inquestionável: vocês que amam o Senhor, detestem o mal. O salmista descreve o domínio de Deus sobre todas as coisas com imagens de profunda beleza: derretem-se como cera os montes, na presença do Senhor de toda a terra. Os céus anunciam a sua justiça, e todos os povos veem a sua glória... A luz difunde-se para o justo, e a alegria para os retos de coração. Alegrem-se no Senhor, ó justos, e deem louvores ao Seu santo nome.

Diante desse Deus, que não é apenas poderoso, mas também terno e compassivo, o sentimento dos seres humanos é o amor que se expressa pela fé. Mas o salmista está atento, e chama a atenção de seu povo: se é verdade que vocês amam o Senhor, odeiem o mal. O desdobramento do amor a Deus flui com naturalidade: amem também os que são seus companheiros de caminhada, sejam mais generosos.

No Evangelho, Jesus cura um homem que tinha uma das mãos mirrada. Foi uma cura física de grande sentido simbólico. O milagre nos ensina que precisamos ter mãos abertas; generosidade para com todas as pessoas. O simbolismo descrito por Gabriel Garcia Márquez é uma nota dissonante e faz com que todo o povo de uma cidade se transforme em cúmplice de um assassinato.

É preciso viver e deixar agir o coração. Não apenas o cérebro, mas as emoções que nos fazem mais generosos.

Vivemos mergulhados em preconceitos. E a religião sem uma fé vigorosa e a manifestação livre do amor os incentivam, em vez de eliminá-los. Esta é a mensagem de William Faulkner, prêmio Nobel de literatura, em Luz em agosto, livro muito elogiado por Albert Camus e Jean Paul Sartre: linchamento, discriminação e preconceitos, misturados com a mensagem religiosa e escondendo-se atrás de um falso biombo com o nome de exigências da fé.

Em absoluto contraste com essa atmosfera pesada de moralismo religioso, vejo a história de Tieta do agreste. Nosso Jorge Amado nos apresenta uma prostituta que tem a alma generosa. Compra, inclusive, a paz na cidade, contra os absurdos ataques de certos religiosos.

É por isso que Jesus diz aos fariseus sem generosidade, em todos os tempos: as prostitutas chegarão ao Reino antes de vocês, seus hipócritas.

E nós? Somos generosos como o menino de evangelho que entregou às mãos de Jesus seus pães e peixes, fato gerador de um verdadeiro milagre se amor e generosidade? Temos simpatia pelo bom samaritano da parábola de Jesus?

Ou ainda estamos com as mãos mirradas? Falta-nos visão? Nossos horizontes são estreitos?

Mas tenha a certeza de que Jesus vem ao nosso encontro. E repare como suas mãos generosas guardam a cicatrizes da cruz.


Corresponda à generosidade dessas mãos.

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