O que é GENTIO?

Dissensão entre Pedro e Paulo, Rembrandt em 1628
Este é um termo exclusivamente judaicocristão, com o qual são conhecidos todos aqueles que professam uma fé não monoteísta. O fundamento dessa acepção é unicamente a oposição entre o povo eleito e os demais povos, porém, as diferenças étnicas, sociológicas ou nacionais não são influentes, tanto no hebraico como no grego.

A evolução religiosa refletiu diretamente no modo como o termo era usado. No Primeiro Testamento a diferença linguística entre gentio, povo e nação é incerta. Em resumo, gentios são os não judeus. Algumas vezes o texto bíblico chama Israel de povo, em oposição aos gentios, a quem chama de não povo.

No Segundo Testamento os termos são usados da mesma maneira, mas referindo-se mais diretamente ao modo de pensar e o estilo de vida, onde o modo judaico contrasta com o grego. Quando o Cristianismo começou a ser pregado, formaram-se as primeiras comunidades cristãs, e estas, indistintamente de serem formadas por judeus e não judeus, foram também chamadas de povo de Deus. Isso fez com que os cristãos se considerarem o novo Israel. Assim o nome gentio passou a receber um significado religioso e moral, indicando todas as pessoas que, independentemente da sua nacionalidade, não receberam a revelação. No Judaísmo da era cristã mesmo as pessoas que confessam uma fé monoteísta, como cristãos e muçulmanos, são chamados de gentios. O latim do império romano inverteu os lados e aplicou aos cristãos o termo “gentes”, para designar todos os que não adoravam o imperador. Mais tarde, quando os adeptos do Judaísmo e do Cristianismo se viram obrigados a refugiarem-se nas aldeias, no latim pagus, foram chamados de pagãos.

Quando da conquista da Terra Prometida, os habitantes cananeus foram chamados de idólatras e a sua terra de impura. Tudo lá, fosse comida ou costume, era considerado impuro. Tudo o que era comum aos gentios, sobretudo comércio e casamentos, deveria ser evitado. Os profetas condenavam os gentios pela sua impiedade para com Israel e pela sua influência negativa aos costumes judaicos. Esta determinação trouxe mais tarde dificuldades enormes para o Cristianismo que pregava uma salvação supranacional, acessível a todos através da conversão. Os gentios convertidos ao Cristianismo, por sua vez, não eram cristãos pela metade, tal como eram considerados os prosélitos convertidos ao Judaísmo. Mesmo sabendo que seus patriarcas receberam uma bênção destinada a todas as famílias da terra, os judeus continuavam a acentuar a sua situação privilegiada. Os gentios podem prestar culto ao Deus de Israel, podem considerá-lo seu Deus, podem ser fiéis aos seus mandamentos, mas nunca serão autenticamente judeus.

Foi na época pós profética que nasceu a ideia de um Reino de Deus espiritual e universal, no qual os gentios teriam também o seu lugar. Mais ainda assim, a separação religiosa prevalecia, pois quem não aderiu a Israel nessa vida como prosélito ou temente a Deus, somente entraria no Reino caso lhe fosse revelado o papel preponderante do Judaísmo neste Reino.

No Segundo Testamento esta separação é abolida por completo. Jesus veio especialmente para por fim a ela. Ainda se fala em gentios, mas o termo é aplicado aos que insistem em continuar a praticar a idolatria, mesmo depois de terem conhecido a verdade do evangelho. São exatamente esses que o cristão não deve imitar, e, em certas circunstâncias evitar o contato. Durante o ministério ativo de Jesus, os discípulos pregavam o evangelho exclusivamente aos judeus. Somente depois da apostasia dos judeus o Reino de Deus se tornou acessível aos gentios. Antes da sua ascensão, porém, Jesus mandou fazer discípulos entre todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Santo Espírito, ensinado-os a guardar as Escrituras que podem fazê-los sábios.

Não era necessário passar pelo Judaísmo para se alcançar a salvação. Mas foi depois de Antioquia, onde os gentios passaram a se converter em grande número, que os cristãos formaram uma categoria de fiéis à parte do Judaísmo. Foi depois de Paulo, que o termo, antes pejorativo, “cristão”, passou a designar homens e mulheres, escravos e livres, judeus e gentios como cidadãos do Reino, Nação Santa e povo exclusivo de Deus.

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