O rico e Lázaro

No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos. Leia Lucas 16.19-31
O Rico e Lázaro, Barent Fabritius (1624-1673)
A leitura dos evangelhos indicada pelo Calendário Litúrgico para hoje, Lucas 16.19-31, também um dos textos de difícil interpretação das Escrituras. Apesar de assim considerá-lo, eu gostaria de, antes de tentar entrar no seu contexto, trazer algumas considerações de estudiosos cristãos sobre o texto, que podem ajudar um pouco o seu esclarecimento para nós.

Alguns bons biblistas consideram que o texto seja uma autêntica parábola, outros já o veem como uma alegoria bem fundamentada, porém, a grande maioria dos leitores da Bíblia o considerem um fato histórico inquestionável. Para chamá-lo de parábola, teremos que observar algumas diferenças entre ele e as demais parábolas de Jesus. As parábolas usam personagens fictícios, já este texto cita os nomes das pessoas envolvidas. A parábola traz sempre uma verdade espiritual, utilizando-se de uma ilustração terrena. Já o texto do rico e Lázaro apresenta uma verdade espiritual sem qualquer metáfora. Seu cenário retrata a vida posmorte, enquanto que as parábolas são sempre desenvolvidas em contextos terrenos.

Os que dizem que o texto é uma parábola e não um acontecimento real baseiam-se no fato da narrativa responder em sentido e estrutura com bastante semelhança à prática padrão usada por Jesus nos seus ensinamentos. Fundamentam-se também na força dos argumentos, pois estes seriam suficientemente seguros para desclassificar o texto como uma história alegórica e enquadrá-lo de vez como uma autêntica parábola. Citam como exemplo, o fato das pessoas no inferno poderem ver abertamente o que as pessoas estão fazendo no céu, e vice versa, ao mesmo tempo que conseguem manter a comunicação uns com os outros. Esta, porém, é uma crença aceita e adotada por um sem número de cristãos, principalmente os de confissão católica. Inúmeras são as petições de proteção e segurança que são levadas aos mortos em oração. Particularmente eu penso que um céu em que os nossos queridos antepassados pudessem acompanhar a nossa trajetória de equívocos e idiotices, pareceria mais com um inferno.

Sem querer sugerir qualquer preferência por uma das duas correntes de pensamento, considero que mais importante que a sua classificação seja enquadrada nas parábolas ou nas alegorias bíblicas, é o ensinamento contido no texto. Parábola ou não Jesus está nos ensinando o quanto as injustiças nos levam para longe de Deus, o quanto nos deixa separados dele. Fala também que o uso que fazemos das riquezas, determina a nossa tendência entre colaboradores do Reino dos Céus e propagadores do reino das trevas.

Se nela Jesus fala claramente da existência de um inferno, se fala de um lugar para onde serão enviados os que rejeitaram o evangelho, se o céu é de fato o seio de Abraão, e se o próprio Abraão teria poder de influência no juízo das pessoas, é o assunto da meditação a seguir. Por enquanto meditemos sobre o texto: ele é de fato uma parábola ou narra um acontecimento real?


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