Que mal existe em ser rico?

Aleluia! Bem-aventurado o homem que teme ao SENHOR e se compraz nos seus mandamentos. A sua descendência será poderosa na terra; será abençoada a geração dos justos. Na sua casa há prosperidade e riqueza, e a sua justiça permanece para sempre.Leia Salmos 112
A idolatria de Salomão, Frans Francken II em 1627
Texto do rev. Jonas Rezende
Há pessoas que juntam dinheiro assim como outros colecionam selos, flâmulas ou caixas de fósforo. São os usurários. Há que se apoie nas riquezas porque é inseguro. E os que enriquecem porque tem vocação para grandes negócios. São raros, porém, os que buscam o dinheiro como propósito de serviço social. A verdade é que não existe mal algum em ser rico; o dinheiro é neutro, podendo ser útil ou destrutivo, de acordo com a nossa administração. Karl Weismann sentencia com razão: há um modo adulto e infantil de se encarar o dinheiro. E, o que é mais comum, há uma forma mista. Mas só há um modo de rejeitá-lo sempre: o infantil.

Destaco nesta visita ao salmo 112, a afirmação do poeta: na casa do justo há prosperidade e riqueza. O salmista está sendo absolutamente fiel à mentalidade do Velho Testamento, em que o sucesso é o resultado da fidelidade a Deus: o justo florescerá como a palmeira. Até porque quem vive de acordo com a justiça está capacitado para administrar com ética e sensibilidade o dinheiro que lhe chega às mãos. Os desníveis do capitalismo e as distorções da burguesia não estão em pauta no universo da antiga aliança. Assim também os aspectos negativos que o protestantismo poderia ter facilitado na Genebra de João Calvino. Embora respeite o escrúpulo dos antigos franciscanos diante dos bens materiais, entendo que eles se encaixam em uma atitude infantil, como denuncia Karl Weismann. Os debates sobre posse que Umberto Eco analisa em seu magnífico livro O nome da rosa chegam ao nível do ridículo.

Meu professor de ética no seminário, Francisco Penha Alves, estabelece alguns critérios que ainda me parecem atuais.

O dinheiro deve ser sempre meio, e não um fim e si mesmo. A prosperidade só incomoda quando abandona o seu exercício de justiça.

Mas as riquezas mencionadas pelo salmista devem ser entendidas sempre como empréstimos e não posses. Encontramos no ensino do Novo Testamento a noção de que o ser humano apenas administra os bens materiais. As parábolas de Jesus que focalizam esse tema deixam claro que os talentos que nos são confiados não nos pertencem. Prestamos conta deles ao verdadeiro dono, que se identifica como o próprio Deus.

O dinheiro ainda deve ser colocado na perspectiva de servo nosso e não de um tirano senhor. Miserável é aquele que se escraviza às riquezas. São Jerônimo esclarece: o Senhor não condenou o que tem bens, mas o que é servo deles, guarda-os como servo; o que, porém, é senhor deles, distribui como senhor.

Mas as riquezas devem ser, acima de tudo, para nós objeto da razão e não do amor. A Bíblia não condena as riquezas usadas com racionalidade, mas afirma com absoluta clareza: o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.

Jesus fala da dificuldade que as pessoas ricas tem de se aproximar corretamente de Deus; manda-nos acumular tesouros no céu e não na terra, onde os danos podem ser muitos. Mas o mestre explica as suas recomendações, dentro de um plano psicológico e espiritual:

Porque onde está o seu tesouro
aí estará também o seu coração

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