A função do templo

Depois, entrando no templo, expulsou os que ali vendiam, dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa será casa de oração. Mas vós a transformastes em covil de salteadores.Lucas 19.45s

Cristo expulsa os vendilhões, Jacob Jordaens
A História narra que pelo menos por duas vezes o Templo de Jerusalém foi profanado, não contando, é claro, as vezes em que ele foi completamente destruído pelos babilônicos e pelos romanos. Embora seu uso mais comum diga respeito ao trato indevido aos objetos de culto, a palavra profanar tem um sentido mais amplo que abrange também os elementos que fazem parte da estima coletiva. A punição para quem profanar uma sepultura é de 2 a 3 anos no Código Penal Brasileiro.


É interessante que se observe que na primeira profanação do templo, em 15 de dezembro de 157 a.C., quando Antíoco Epifanes colocou uma estátua de Zeus no santo dos santos, a população se indignou profundamente. Mais tarde, quando o templo estava sendo profanado pelos cambistas e vendilhões, o povo não mostrou qualquer sinal de indignação. Apenas Jesus se manifestou.

Já paramos para pensar quais seriam os fatores que determinaram condutas diferentes para as duas situações? Fatores como a época, os costumes e a própria condição financeira do templo poderiam explicar e até justificar. Contudo, eu me atreveria dizer que a grande distinção foi simplesmente o fato da profanação de Antíoco acontecer de fora para dentro, enquanto que a dos vendilhões e cambistas aconteceu de dentro para fora, e me atrevo a dizer que foi isso que fez e ainda hoje faz toda a diferença.

Ninguém precisa ser bom observador para constatar que nós, os cristãos, estamos sempre prontos para rechaçar qualquer investida de alguém que adentre os nossos templos em alto grau de entorpecimento seja por bebida ou drogas, impedir a entrada de alguém que esteja vestido inadequadamente ou mesmo portando objetos de cultos estranhos ao nosso. Estamos mais do que preparados para rebater qualquer crítica que seja endereçada às nossas igrejas e denominações, bem como nos sentimos totalmente aptos a defender com unhas e dentes todas as afrontas as nossas doutrinas. Mas não esboçamos a menor reação quando a profanação vem de dentro, quando vem dos engodos heréticos que nos são lançados diariamente ou através daqueles que nascem da nossa ignorância do evangelho e da verdadeira função do templo.

Chamamos as autoridades competentes para que o profanador seja levado a julgamento pelos seus atos, e nos alegremos muito ao ver a lei ser cumprida. Mas que chamará a polícia para nos prender? Quem dentre nós terá coragem de pegar no chicote para expulsar os mercenário e expurgar as heresias que definitivamente tomaram conta de nossas igrejas e que profanam cotidianamente os nossos templos? Parece que temos duas leis: uma severíssima e implacável para profanação por parte de estranhos, e outra bem mais complacente e permissiva para as nossas profanações particulares.

A minha casa será chamada casa de oração e será para todos os povos. A culpa por muitas das nossas atitudes passa justamente por aí: pelo total desconhecimento da função do templo. Casa é o lugar onde os filhos se abrigam, onde prevalece a fraternidade e tratamento igual. Casa é o local de descanso para onde se dirigem todos aqueles que estão cansados após um dia de trabalho extenuante. A casa de Deus, casa dos filhos de Deus. Lugar sem bandeiras, sem divisões de território, dirigida e guardada pelo Pai de todos nós. Oração é a oportunidade de restauração do espírito, do diálogo franco e aberto com Deus. É a hora da descontaminação de todos os maus pensamentos que nos deviam do nosso real propósito.

Uma vez que a casa se encontre limpa das profanações, torna-se o lugar propício para Jesus exercer o seu papel de mestre e nos ensinar coisas mais elevadas que ainda não conhecemos. 

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