Reconheça que é pequeno. E cresça!

Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente. Leia Salmos 143
Jesus diante de Caifás, Mathias Storm
Texto do rev. Jonas Rezende
O Peer Gynt, de Ibsen, descreve uma cena que me emociona. De­epoisde tanta busca e desencontros, de equívocos e de saudade, Peer Gynt volta à sua terra, ao ponto de partida, bem mais velho e sofrido. E, ao desmanchar uma cebola vagarosamente, confessa: minha vida é como esta cebola; só cascas, sem conteúdo. Coloquem isso em meu epitáfio.

Sinto que por fim, ao tomar consciência de que é casca, Peer Gynt começa a descobrir seu verdadeiro núcleo, o cerne da sua existência.

Neste poema, o salmista me passa a mesma impressão. Suplica mais uma vez por libertação, como também acontece conosco: responde-me segundo a tua fidelidade, segundo a tua justiça. Queixa-se da impiedade de seus inimigos: arrojam por terra a minha vida; têm- me feito habitar na escuridão, como aqueles que morreram há muito. Confessa que está abalado: dentro em mim esmorece o meu coração. Tem saudade do passado: lembro-me dos dias de outrora. Pede urgência na punição dos que infernizam sua vida: a ti levanto a minha mão; minha alma anseia por ti, como a terra sedenta. Dá-te pressa, Senhor, em responder-me... Livra-me, Senhor, dos meus inimigos.

Mas, em nenhum momento, Davi se esquece de que não há, aos olhos divinos, nenhum justo. Assim, ele também não o é. Abre-se então com honestidade diante do Senhor: ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano. Vivifica-me, Senhor, por amor do teu nome.

Sempre tive e ainda tenho uma profunda admiração por Bertolt Brecht. Vivo a citar seu pensamento desde a minha juventude. En­canta-me a genialidade dos seus aforismos; a sensibilidade de suas peças teatrais; a maneira, até pedagógica, de ensinar o oprimido a se organizar e conquistar os seus direitos, como fica claro em Mãe coragem; a oportuna descoberta de uma técnica teatral conhecida como distanciamento, que nos leva a refletir melhor sobre as ideias veiculadas no palco.

Por causa dessa grande admiração, fiquei assustado com a sua bio­grafia escrita por John Fuegi, A vida e as mentiras de Bertold Brecht.

O autor, que estuda o dramaturgo há anos, é fundador da Sociedade Internacional de Brecht. E, com essas credenciais, revela que o escritor não era correto com os colaboradores, mas os manipulava. Sua postura poderia ser identificada como a de um antissemita que justificava o extermínio dos judeus. Teria assinado trabalhos escri­tos quase completamente por suas amantes... E vai por aí.

Espero que tudo não passe de uma confusão ou de sensacionalismo para vender livros, marketing. Caso, porém, se confirmem as de­núncias, eu pergunto: de que adianta a aura de gênio socialista, se a vida se faz um engodo; se o homem que defende os destituídos, e até quer aparecer como pobre, tem dinheiro na Suíça, onde preten­de construir uma verdadeira mansão? Jesus Cristo diria com dure­za: túmulo caiado. E o nosso povo criou um ditado de profunda sabedoria: por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento...

O salmista Davi assume a posição correta. Ele sabe que só quem se reconhece pequeno pode crescer. Só existe progresso espiritual com base na verdade.
Jesus disse em uma de suas caminhadas: vocês conhecerão a verda­de e a verdade libertará vocês.



Por que não acreditar?

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