O que é ANTICRISTO?

A besta que emerge do mar, ícone medieval
Esta palavra encontra-se na Bíblia apenas em I Jo 2.18 e 2.22, mas uma realidade análoga é apontada em diversas passagens das escrituras. Desde o Gênesis vê-se que a ação de Deus no mundo entra em choque com forças adversas, o anti Deus, que, segundo o contexto,
assumem formas distintas, por isso, analisá-la em seus variados aspectos requer um passeio pelas suas páginas.

O simbolismo religioso do antigo Oriente concebeu a criação do mundo como um combate entre o Criador e as forças do caos. Bestas monstruosas personificavam o incontido poder do mar: Tu, com o teu poder, dividiste o mar; esmagaste sobre as águas a cabeça dos monstros marinhos   Sl 74.13. Essa mesma linguagem serve para anunciar o combate de Deus com a serpente nos últimos tempos, delineando a figura de Satã, o adversário de Deus por excelência, nos dois extremos do Plano de Salvação. Contudo, Satanás age na história através de poderes humanos, quando os inimigos de Israel se tornam inimigos do próprio Deus, como é o caso do Egito e da Babilônia, opressores de Israel que ousam igualar-se a Deus. Mas em todo Primeiro Testamento não há um anti Deus maior do que Antíoco Epifanes, que não é somente inimigo de Israel, mas também é o perseguidor dos verdadeiros adoradores de Deus. No livro de Daniel ele é o ímpio que resume todas as representações anteriores. É ele quem pretende tomar o lugar de Deus: Este rei fará segundo a sua vontade, e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus; contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis – Dn 11.36ª, e instala no lugar santo a Abominação da Desolação: Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador – Dn 9.27ª.

É justamente essa perspectiva escatológica que o Segundo Testamento retoma, apenas com uma diferença, o anti Deus torna-se agora o anti Cristo. Na literatura apocalíptica contida nos evangelhos sinóticos a vinda em glória de Jesus coincide com o aparecimento de falsos cristos cuja finalidade é arrastar os homens à apostasia, e que também possuem como sinal a Abominação da Desolação instalada no lugar santo: Quando, pois, virdes o abominável da desolação situado onde não deve estar (quem lê entenda), então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes – Mc 13,14. Nas epístolas pastorais, o Ser perdido assume aspectos de um verdadeiro anti Deus nos moldes de Daniel. O anti Cristo até imita Jesus e tem a sua parusia própria em que o seu poder sobrenatural operará prodígios enganosos para a perdição dos homens. É esta a obra que Satanás realizará no mundo. Este é o ministério da impiedade cujo mentor já está em ação. Se este ímpio se manifestará em pessoa ou em uma estrutura de maldades Paulo não explicou, mas em todo caso será aniquilada pela verdadeira manifestação de Deus.

Já o Apocalipse aborda este tema fazendo uso de duas bestas monstruosas: o poder político que blasfema contra Deus e persegue os verdadeiros cristãos, e a realidade religiosa que tenta desfazer com prodígios a obra de Cristo, escravizando novamente os homens. É o império das trevas personificado pelo império pagão de Roma perseguindo a igreja. O apóstolo João amplia em muito esta perspectiva, quando chama de anti Cristo todos aqueles que negam que Jesus é o Cristo, que não confessa que Jesus encarnou e habitou entre nós. Esse é o herege que promove a apostasia denunciada por Paulo a Timóteo.

A doutrina do anti Cristo se torna misteriosa quando abandona as denúncias explícitas da literatura apocalíptica e passa a fazer referência à guerra milenar em que Deus e seu Cristo enfrentam Satanás e seus sequazes terrestres. Estes que entraram também pelos caminhos da perseguição política e da sedução religiosa, na tentativa de fazer fracassar o plano da salvação. Constitui-se um erro grave, como é largamente usual hoje em dia, tentar dar nomes próprios a cada símbolo que serve para evocar a presença e a ação destes anti Cristos, mas com certeza todo aquele que participa em certa medida, voluntária ou involuntariamente nesta empreitada se torna um digno ostentador de tal título. Esta é uma obra que vai prosseguir sem descanso durante todo o curso da história, colocando a todos nós no âmago de uma luta que nenhum ser humano pode por seus próprios esforços triunfar. Mas é justamente onde os homens tiverem fracassado que o Cordeiro que se entregou por sacrifício vencerá. 

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