A cerimônia da taça

Restaura-nos, ó Deus; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos. Leia o salmo 80
Casamento judeu no Marrocos, Delacroix em 1839
Texto do rev Jonas Rezende.
O pensamento de Robert Mallet é de absoluta sensatez. Não é o impossível que mais desespera, mas o possível não-atingido. Tenho uma profunda e grata alegria de celebrar, com frequência, casamentos entre judeus e cristãos. É das melhores experiências da minha vida, como pastor, perceber que as barreiras cedem diante do amor.


Nessas celebrações ecumênicas, porque independentes de conversão de nenhum lado, é comum que o casal é comum que o casal consita incluir uma bonita tradição judaica de se quebrar uma taça ao final da cerimônia de casamento. Os significados são vários. Prefiro o que lembra a queda de Jerusalém e do templo, símbolo de Israel, no cerco que Tito fez à cidade, no ano 70 d.C. A taça lembra a queda e sonha com a restauração.

É exatamente o espírito do salmo que está diante dos seus olhos, que registra o testemunho de Asafe: restaura-nos, ó Senhor dos Exércitos; protege o que a tua mão direita plantou.

Assim é a vida. Precisamos continuamente restaurar o que amamos e, acima de tudo, restaurar-nos ou renovar-nos diante de Deus, do outro e aos nossos próprios olhos.

É necessário restaurar o ideal que abandonamos pelo caminho. Você deve conhecer estudantes que alimentam tantos sonhos, mas que se transformam em profissionais argentários e mesmo cínicos. Fico emocionado quando leio e releio a página de um dos maiores idealistas de todos os tempos, Albert Schweitzer. Em seu livro Memórias da infância e da mocidade, ele descreve: nós acreditávamos na vitória da verdade, mas agora não mais. Acreditávamos no companheirismo, mas agora não mais. Acreditávamos na bondade, mas agora não mais. Éramos zelosos pela justiça, mas agora não mais. Acreditávamos no poder do amor a na possibilidade da paz, mas agora não mais...

A denúncia e o denunciante são muito sérios. Temos urgência em restaurar o ideal perdido. Mas restaurar também o entusiasmo que já não temos mais. E a etimologia da palavra entusiasmojá nos deixa avaliar o que perdemos. O significado do vocábulo é, literalmente, Deus dentro. E não podemos deixar de sentir o Deus que habita em nós: Emanuel,

Temos, contudo, que restaurar também a esperança perdida. O filósofo romeno Cioram não pode ter a última palavra. Porque a sua amargura é bela em termos poéticos, mas corrosiva. Avalie você: se acreditamos tão ingenuamente nas ideias, é porque nos esquecemos de que foram concebidas por mamíferos. Temos de reaprender a esperança com os santos sem religião, como Betinho. Ou o querido Mário Quintana, que nos segreda: a vida não basta ser vivida, é preciso ser sonhada.

E por fim, mais do que nunca, temos de restaurar a alegria perdida. Quando observamos a multidão no seu dia-a-dia, há tensão e angústia em seus olhos, como se todos cumprissem, estressados, um ritual de morte lenta, um suicídio a fogo brando... O salmista Davi nos ajuda a ver a gravidade dessa tristeza mórbida, quando ele próprio intercede junto a Deus: torna a dar-me a alegria da tua salvação.

Jesus, no Evangelho, não apenas promete a restauração da nossa vida, como nos oferece o conforto quando chegamos a perder tudo ou quase tudo. Com ternura, ele nos convida: venham a mim todos os que estão estafados, que eu os aliviarei...


Por que não experimentar?

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