Profetismo, o bíblico e o atual II

A visão e Ezequiel, Rafael
Esses vídeos podem não nos dizer exatamente o que é a profecia, mas com muita clareza eles nos dizem o que ela não é. Eliminando de saída esta quiromancia digital travestida de profecia, vamos mergulhar fundo no tempo voltamos três mil anos no passado para analisar as suas raízes e propósitos iniciais.

Após tomar posse da Terra Prometida, os hebreus se organizaram em clãs autônomas, ligadas por leis consensuais e humanitárias, como também por uma religião que poderíamos chamar de monólatra. O
conceito de monolatria é diferente de monoteísmo, porque este último crê na existência de um único Deus, enquanto que a monolatria escolhe um para adorar em meio a um panteão. Curioso também é o fato de que esse Deus não possuía um único nome, era invocado segundo conceitos e regionalismos próprios do clã. Se para uns era El Shadday, o Deus Todo Poderoso, para outros era conhecido como El Elion, ou Deus das Alturas, isso apenas para exemplificar. Quando a liberdade desses clãs era ameaçada por povos vizinhos, Deus levantava juízes para livrá-los da escravidão, sendo assim, levantou Débora, Sansão, Gedeão, Otoniel e outros mais que lideraram o povo neste momentos de crise. Passada a crise, a vida voltava ao normal e os juízes às suas atividades comuns.

Mas o povo hebreu passou a invejar as nações vizinhas que tinham reis que dominavam sobre eles. Eles queriam ter um ídolo visível, alguém em quem se espelhassem e de quem se orgulhassem. Algo muito parecido acontece nas igrejas da periferia, cujo templo é a construção mais suntuosa do local, seu pastor tem o melhor carro e a mais bela casa. Eles queriam se projetar na figura de alguém que aparentemente lhes fosse superior. Apesar de todos os conselhos para desistirem da ideia, elegeram um rei pelos critérios da época. O mais alto, o mais forte, o mais bonito, esse serve para ser rei. Imediatamente após o povo eleger o seu primeiro rei, Deus levantou o seu primeiro profeta, como se estivesse dizendo: vocês querem ter um rei, pois terão também profetas. E assim nasce a profecia em Israel, muito mais para controlar os desmandos do rei, estabelecer limites ao seu poder e direcionar o seu governo. Estava estabelecida s oposição divina ao instrumento máximi de poder sobre o povo.

Apesar de possuírem uma percepção além do normal e enxergarem outras possibilidades, os profetas não escolheram seus destinos, e não consta que qualquer deles tenha ficado feliz ou orgulhoso pelo seu chamado, pelo contrário. Vieram das mais diversas classes sociais, alguns eram príncipes, outros sacerdotes e outros simples camponeses. Mesmo que tenham influenciado decisivamente a história de Israel, a Bíblia manteve silêncio sobre a vida pessoal deles todos, não revelando maiores detalhes da vida pregressa destes homens e mulheres. Isso apenas aumenta o mistério do por quê essas pessoas colocavam as suas vidas em risco para anunciar uma mensagem que apenas eles ouviam.  Impressionante também é o fato de que eram classes sociais diferentes e de várias regiões, mas indistintamente todos ouviram o mesmo chamado. Eles criam piamente que era Deus quem os inspirava a falar, mesmo que não tivessem qualquer garantia sobre este fato. Outra característica marcante era a sua excentricidade: Jeremias vagava pelas cidades com uma canga de bois nas costas, Oséias fez questão de querer de volta a ex mulher que já tinha se tornado prostituta, Ezequiel mais parecia um vidente alucinado do que propriamente um homem de Deus, e Isaías perambulou nu por três anos.

Samuel ao ungir o primeiro rei judeu assinalou o início de uma guerra declarada entre profetas e reis que duraria mais de cinco séculos, e é aqui que a história deste povo se divide em duas lideranças. Quando uma figura assume a liderança política, o rei, a outra assume a liderança espiritual, o profeta. Mesmo que inicialmente agissem como indivíduos, arrebanharam um sem número de seguidores próximos, estabelecendo através deles uma escola profética. É deste grupo que surge o primeiro profeta na concepção exata da palavra. Elias não somente é o primeiro profeta como também o primeiro a assumir os riscos do seu chamado. Juntamente com Eliseu forma a dupla de profetas que fará surgir a profecia regularmente instituída por aqueles que nos deixaram mais do que simples histórias a seu respeito, nos legaram a base moral de toda civilização ocidental, os profetas escritores. (continua)

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