O que é REVELAÇÃO? II

João,Hans Memling(1433-1494)
Da revelação cristã devemos distinguir a chamada revelação natural, aquela que é obtida através do esforço da mente humana ou da sua conscientização sobre a origem das coisas e do mundo à sua volta. Paulo fala dela no capitulo 2 da Carta aos Colossenses, quando adverte a igreja a tomar cuidado com a filosofia vazia,principalmente aquela que vai de encontro aos princípios do evangelho: Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua por meio de suas filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo. Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.


Mas esta revelação não é em si um mistério, ela está relacionada à inteligência humana. Paulo a chamava de “o conhecível de Deus”, o que é sem dúvida de muito proveito para o bem estar comum, mas não credita a quem quer que seja o poder de discernir a revelação espiritual que é um carisma: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. (ICo 2,14)

Embora o termo revelação domine a teologia joanina, ele só usa esta palavra uma única vez, quando cita um texto do Primeiro Testamento: E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele, para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?  (Jo 12.37s) João também não usa os termos mistério, escondido e nem tirar o véu quando faz alusão à revelação de Cristo. João não foi tão influenciado pelas literaturas apocalípticas e sapienciais dos judeus como Paulo. João tentou harmonizar as tendências religiosas do helenismo, o gnosticismo e o misticismo, ao Cristianismo, embora rejeitasse todos os elementos inconciliáveis destas correntes de pensamento. Seus argumentos se valem mais do dualismo luz/trevas e do segmento ver/contemplar, para testemunhar sobre Deus, as coisas de Deus e sobre a verdade.

Mais do que Paulo João vê a fé cristã baseada em revelação. No centro dela está Cristo, que traz a revelação que Jesus é o redentor pela sua morte na cruz. Jesus é aquele que revela a luz aos homens que andam nas trevas. Essa luz traz a vida por meio da fé. A Palavra de Deus, o seu logos, se fez carne, e os discípulos puderam ver e contemplar a sua glória, que se plenifica na suprema dedicação do amor que sofre e morre para remir pecadores que não são dignos dela.

A atitude do homem frente à revelação de ser de fé, que faz o homem contemplar além de apenas ver. Essa fé na revelação é uma graça, pois ninguém pode vir ao Filho se o Pai não o atrair. Mas ela é um bem da existência cristã, e por causa disso a escatologia recebe relativa importância, porque o essencial da revelação já foi dado aos homens. A revelação do Filho de Deus feito homem é a revelação essencial. Todas as outras giram em torno dela. Tanto as revelações anteriores quanto as posteriores devem ser avaliadas em relação à revelação suprema de Deus em Cristo. É ela quem faz, pela revelação, as trevas, luz e da visão, conhecimento, pois a verdade está com quem escuta e obedece ao que Jesus nos revelou do seu Pai. 

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