O Papa que sorri

Papa sorrindo, REUTERS-Alessandro Bianchi
Texto do rev. Luiz Carlos Ramos
Primeiro, deixem-me estabelecer uma distinção entre “rir” e “sorrir”: Nós sempre rimos de alguém ou de alguma coisa, e sorrimos para alguém ou para alguma coisa. Não cheguei a essa conclusão recorrendo a altas filosofias, mas pela simples observação daqueles que me cercam. A partir dessa constatação, formulei uma teoria pela qual ouso classificar as pessoas em duas categorias: as que riem e as que sorriem. As primeiras, relego-as a uma casta inferior, porque rir de parece ser quase sempre um ato depreciativo, desdenhoso e, não raro, de desprezo. Ao passo que sorrir para sugere amabilidade, afabilidade e, mesmo, meiguice. Claro que todos nós por vezes rimos e por vezes sorrimos, no entanto, a teoria não é para ser aplicada ao episódico, e sim ao cômputo médio e geral. As pessoas ou são predominantemente ridentes, ou predominantemente sorridentes.

E o que tem o Papa a ver com isso? Bem, notei, desde a primeira vez que o vi, que ele é do tipo sorridente. E porque o tenho visto sorrindo em tão frequentes ocasiões, me dei conta de que raras vezes isso acontecia com os seus antecessores, bem como com o seu séquito de religiosos graves, de vestimentas escuras e semblantes carregados, que sempre o escoltam. Então, lembrei-me de ter aprendido do Rubem Alves que os demônios são sérios e graves, e que Deus é leve e ri (no caso de aplicar-se a minha teoria, devemos dizer que Deus é leve e sorri).

Não sou católico, mas gostaria que também os líderes das outras tradições religiosas sorrissem mais, inclusive os da minha igreja. Vejo-os, ultimamente, muito sérios e graves. Se eles sorrissem mais, saberíamos com certeza que nos querem bem e desejam, igualmente, o nosso bem (e não os nossos bens, como diria o Pe. Antônio Vieira). O texto do Evangelho do próximo domingo (28 de julho) inclui a passagem que diz: “Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra?” (Lc 11.11). Ri-se às gargalhadas quem dá pedra a uma criança que lhe pede pão, ou dá cobra quando lhe pede peixe. O pai que ama o filho ou filha, ao contrário, dá-lhe, se preciso for, seu próprio pão e seu próprio peixe, e ainda o abençoará com seu sorriso.

Então, como não-católico, quero, pelo menos, retribuir a esse irmão Francisco o sorriso. E, com a simplicidade e a prudência dos que têm fé, dizer que ainda creio que a religião pode alimentar as crianças e fazer sorrir os anciãos.

Extraído do blog http://www.luizcarlosramos.net

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...