Atire a primeira pedra

Como eles continuaram a fazer a mesma pergunta, Jesus endireitou o corpo e disse a eles: — Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher!João 8.7
Jesus e a adúltera, Jean Drouet
Nunca foi preocupação do nosso povo conhecer a origem das palavras e, principalmente, dos ditados, nem mesmo os mais corriqueiros, que se utiliza. Se perguntarmos de onde foi tirada a expressão “tempo das vacas magras”, poucas pessoas entre nós saberiam dizer que vem do sonho do faraó interpretado por José, no Gênesis. O mesmo ocorre com as palavras que servem de título da nossa meditação. Seria bem provável que alguém dissesse que é derivada da marchinha composta por Ataulfo Alves e Mario Lago para os carnavais de antigamente, a qual deram esse nome.


Com o desconhecimento da origem vem algo muito mais grave: o barateamento do termo. É justamente quando a expressão perde a sua força e as palavras todo o seu valor genuíno e passam a servir para os fins grotescos, banais e completamente descontextualizados. É bem provável que os próprios autores citados, no diálogo musical que travam com a personagem fictícia Iaiá, não soubessem que foram exatamente estas palavras que um dia estabeleceram a fronteira entre a vida e a morte de uma mulher flagrada em adultério. Eles precisavam saber que tais palavras também colocaram em xeque todo o ministério de Jesus, bem como a sua reputação como Messias justo e verdadeiro.

A simples menção do seu uso indiscriminado por todo aquele que foi vítima de uma decepção amorosa, tira das palavras ditas por Jesus à turba enfurecida que queria apedrejá-lo, juntamente com a mulher adúltera, toda a seriedade e responsabilidade que temos diante de julgamentos cruciais como este no decurso da nossa existência.  

Será que já paramos para pensar na profunda gravidade desta simplória situação? Será que já nos demos conta de que é desta mesma forma que encaramos outras tantas situações que a Bíblia aborda com extrema seriedade, nos apontando a vontade de Deus para o momento, e nós tornamos todo o seu esforço irrelevante?

De uma coisa o Mario Lago e o Ataulfo tinham plena razão: Covarde sei que me podem chamar. O mundo pode realmente nos chamar de covardes, mas não porque não trazemos no peito essa ou qualquer outra dor de amor, mas porque não respondemos ao desafio das palavras de Jesus com o compromisso e com o engajamento que elas exigem de nós. Que o mundo nos atire a primeira e tantas pedras quantas forem necessárias para que entendamos a extensão da nossa falta, do quanto temos que aprender com os cristãos que levaram a Bíblia a sério.

Felizmente os inspirados compositores do passado terminam a sua canção com o desfecho mais bíblico que se possa imaginar. Ainda que desconhecendo o momento crucial em que as palavras foram proferidas, eles finalizam a composição com uma das maiores e mais abrangentes verdades do evangelho. Uma verdade que serviu tanto para eles, com serve para nós com igual intensidade hoje: Perdão foi feito pra gente pedir.


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