Tentação III

A pregação de João Batista, Francesco Bacchiacca (1494-1557)
Após a tentação no deserto nós acompanhamos Jesus começando o seu ministério. É nessa hora que ele chegou àquilo que poderíamos compreender com sendo a quarta tentação diferentemente das outras três anteriores, esta não foi uma tentação que aconteceu no isolamento do deserto, mas entre os que lhe eram próximos, na sua terra natal, na Galileia. Tão logo ensaiava os primeiros passos da sua missão, Jesus recebeu a preocupante notícia de que seu primo, João Batista, havia sido preso por Herodes por pregar a chegada do Reino de Deus. Uma notícia anunciando que um pregador errante, cuja mensagem muito se alinhava com a ele começava a pregar, estava sendo encarcerado pelas autoridades locais, era um sinal inequívoco de que ele deveria se calar ou mudar de província. Exatamente por isso Jesus foi tentado a abandonar a sua missão. Agora não era mais um simples período de privação e de fome que o atormentava, mas sim o risco de perder a liberdade e a própria vida.

Mas Jesus não pensou como normalmente pensamos, ele viu que a prisão de João Batista nada mais era do que a conclusão da sua preparação no deserto. Essa era a ocasião propícia para Jesus enfrentar mais uma tentação. Ele podia ter escolhido inúmeras boas razões para não continuar a sua missão. Ele poderia ter duvidado se faria mesmo alguma diferença pregar o Reino de Deus para um mundo que jaz em ruínas, em ódio, em violência. Outra coisa, ele teria naquela hora algum motivo para não crer que as autoridades o fariam se calar da mesma maneira com que fizeram João interromper o seu ministério?

Os sinais que todos veriam como desastrosos para a missão, Jesus os entendia como propósitos de Deus para intervir na direção do seu plano e guiar a sua vida. Quanto mais acontecimentos aparentemente negativos e contrários aos interesses do Reino surgiam, Jesus cada vez mais se certificava de que Deus estava no comando de tudo.

Deus estava no comando naquela hora, como está agora mesmo. Quanto tudo parecia ruim; quando tudo parecia que ia ruir; quando o mundo estava mais mergulhado no caos do que nunca; quando as notícias variavam de ruins a péssimas, Jesus entra com a boa notícia do Reino de Deus. Quando não existe qualquer esperança humana, ele nos faz lembrar que o Reino de Deus está perto. Não é essa a mensagem do evangelho? Não é assim a graça de Deus? Não é perdoando os que não merecem ser perdoados, aceitados que não merecem aceitação, amando aqueles que não merecem ser amados?

O que mais pode o homem fazer hoje senão se arrepender e crer no Reino de Deus? Esta é a conclusão que tirou Jesus das suas tentações e o impulsionou a vencê-las todas. Esta é a conclusão do texto bíblico indicado na primeira parte da nossa reflexão. Esta é a certeza de que as nossas tentações não terminaram no deserto, mas é também a firme orientação de que uma vez focados naquelas tentações, temos o rumo para nos nortear em todas as outras tentações que porventura nos sobrevenham.  

Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho. (Mc 1.14-15)

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